Houve mais avanços e
descobertas cientificas nos setenta anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial
do que em todos os anos anteriores. O homem agora podia voar, a penicilina
aumentava a expectativa de vida, a energia elétrica libertava o homem da escuridão,
locomotivas a vapor encurtavam distancias e aproximavam pessoas, a imprensa revolucionava
a informação no mundo. A máquina, a ciência, e o positivismo apontavam para um
futuro muito promissor. Alguns teóricos socialistas, chegaram ver a máquina e a
ciência moderna como forma de aumentar a qualidade de vida e diminuir as duras
jornadas de trabalho.
Com o término da Segunda Guerra,
o trauma gerado pelo conflito foi enorme, ainda que a Primeira Guerra tenha
sido mortífera, a Segunda revelou que a engenharia e estudos científicos foram
utilizados minuciosamente para projetar e promover verdadeiras industrias da
morte, que tiveram como produto mais notório os campos de extermínio. Agora o
assassinato é cometido em escala industrial e sobretudo, extremamente racional,
é projetado para os executores não terem trauma, para com o mínimo de recurso
matar o máximo de pessoas, há o surgimento de uma ciência do extermínio.
A ciência foi
instrumentalizada para causar morte e destruição. Bauman chama atenção para os
médicos, engenheiros e demais profissões instruídas que utilizaram de seu
conhecimento para promover a morte em escala industrial, e propõe uma formação
humana para todas as áreas da ciência, como maneira de evitar repetir fenômenos
fascistas.
Assim há a necessidade de uma ampliação do senso crítico dos
cientistas, para que não sejam alienados da sociedade, e não projetem ou
colaborem com estudos que possam servir a regimes não democráticos. É
necessário um movimento extremamente critico da academia e um resgate histórico
e sociológico dos fenômenos que levaram a ascensão do fascismo na Europa. A ciência
deve atuar como defensora do estado democrático, mas também deve desenvolver
mecanismos de informações, inovações e mecanismos que possibilitem a superação
do fascismo. Durante anos esses mecanismos funcionaram, a ONU é um dos exemplos
mais pragmáticos. Os Julgamentos de Nuremberg modificaram a forma de fazer direito,
ainda que passíveis de críticas, foram úteis para a superação e condenação jurídica
e moral do fascismo. Agora o desafio que se coloca diante da ciência é o da
criação de novos mecanismos que impeçam a ascensão do fascismo, uma vez que os
antigos já não são mais suficientes.
Relembrando Bertolt Brecht, “A cadela
do fascismo está sempre no cio”, a ciência e sociedade baixaram a guarda, acharam
que o fascismo já estava superado, agora é necessário recuperar o tempo perdido.
E afinal cabe perguntar: Quão longe do fascismo está o homem do século XXI, que
desenvolveu maneiras de matar “civilizadas”, “sem dor”, como a injeção letal?
Ricardo da Silva Soares-Noturno
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