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terça-feira, 2 de abril de 2019

Fascismo e ciência

            Houve mais avanços e descobertas cientificas nos setenta anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial do que em todos os anos anteriores. O homem agora podia voar, a penicilina aumentava a expectativa de vida, a energia elétrica libertava o homem da escuridão, locomotivas a vapor encurtavam distancias e aproximavam pessoas, a imprensa revolucionava a informação no mundo. A máquina, a ciência, e o positivismo apontavam para um futuro muito promissor. Alguns teóricos socialistas, chegaram ver a máquina e a ciência moderna como forma de aumentar a qualidade de vida e diminuir as duras jornadas de trabalho.    
Com o término da Segunda Guerra, o trauma gerado pelo conflito foi enorme, ainda que a Primeira Guerra tenha sido mortífera, a Segunda revelou que a engenharia e estudos científicos foram utilizados minuciosamente para projetar e promover verdadeiras industrias da morte, que tiveram como produto mais notório os campos de extermínio. Agora o assassinato é cometido em escala industrial e sobretudo, extremamente racional, é projetado para os executores não terem trauma, para com o mínimo de recurso matar o máximo de pessoas, há o surgimento de uma ciência do extermínio.
A ciência foi instrumentalizada para causar morte e destruição. Bauman chama atenção para os médicos, engenheiros e demais profissões instruídas que utilizaram de seu conhecimento para promover a morte em escala industrial, e propõe uma formação humana para todas as áreas da ciência, como maneira de evitar repetir fenômenos fascistas.
Assim há a necessidade de uma ampliação do senso crítico dos cientistas, para que não sejam alienados da sociedade, e não projetem ou colaborem com estudos que possam servir a regimes não democráticos. É necessário um movimento extremamente critico da academia e um resgate histórico e sociológico dos fenômenos que levaram a ascensão do fascismo na Europa. A ciência deve atuar como defensora do estado democrático, mas também deve desenvolver mecanismos de informações, inovações e mecanismos que possibilitem a superação do fascismo. Durante anos esses mecanismos funcionaram, a ONU é um dos exemplos mais pragmáticos. Os Julgamentos de Nuremberg modificaram a forma de fazer direito, ainda que passíveis de críticas, foram úteis para a superação e condenação jurídica e moral do fascismo. Agora o desafio que se coloca diante da ciência é o da criação de novos mecanismos que impeçam a ascensão do fascismo, uma vez que os antigos já não são mais suficientes.
Relembrando Bertolt Brecht, “A cadela do fascismo está sempre no cio”, a ciência e sociedade baixaram a guarda, acharam que o fascismo já estava superado, agora é necessário recuperar o tempo perdido. E afinal cabe perguntar: Quão longe do fascismo está o homem do século XXI, que desenvolveu maneiras de matar “civilizadas”, “sem dor”, como a injeção letal?

Ricardo da Silva Soares-Noturno

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