A sociedade desde seus primórdios
teve de lidar com obstáculos comuns a indivíduos que decidem viver em
comunidade. Porém, até o período da Idade Média o ser humano possuía uma
percepção do mundo muito restrita, baseada nos preceitos religiosos de seus líderes.
Contudo, com surgimento dos ideais iluministas, e com isso um pensamento mais
voltado ao indivíduo, essa percepção mudou, tornando-se mecanicista e
individualista, partindo do pressuposto de que tudo era isolável, tais quais
peças de um relógio, como defendia René Descartes.
A visão mecanicista consiste no
isolamento dos problemas enfrentados a fim de resolvê-los de forma desconexa
aos diversos componentes da sociedade, sem considerar a teia de ligações em que
consiste a vida humana. Essa concepção da sociedade foi de forma louvável
suficiente para a solução dos problemas enfrentados à época, contudo, passados
mais de quatro séculos, a sociedade, como algo mutável, que se transforma
constantemente, necessita de uma ciência que a considere em toda a sua
pluralidade. Exemplo do uso, ou melhor, mau uso deste método para reger a
sociedade foram os governos fascistas surgidos na Itália e posteriormente na
Alemanha, que, com a crise econômica, deram a população uma de solução única de
seus problemas, que se personificou na face de um inimigo comum: os judeus.
Agindo como um bloco único e isolado do restante da sociedade, a população
aceita o extermínio de seu pressuposto inimigo sem considerar as consequências
a que isso se relaciona, movidos pelo desejo de satisfazer seus desejos, que
até então não eram sequer ambiciosos, mas sim de saciar a fome de seus filhos.
O modelo de sociedade constituído
pelo fascismo em muito de assemelha ao modelo atômico de Dalton: uma esfera
única e maciça, irredutível; ou seja, todos devem abdicar de sua
individualidade, tornando-se parte da massa social em que se transforma a
sociedade. Entretanto, tais quais os modelos atômicos foram evoluindo no
decorrer da História, os modelos sociais também devem evoluir, como afirma Sônia,
no filme “Ponto de mutação”, no qual defende uma percepção do mundo plural, que
considere as relações sociais contidas nele. Tal visão se relaciona de forma
análoga ao que afirmava Rutherford ao descrever o átomo: uma estrutura
divisível, dotada de núcleo e elétrons que orbitam seu núcleo, organizados em
camadas energéticas; sendo, desta forma, o Estado o núcleo da sociedade, as
individualidades de cada um, os elétrons e as camadas energéticas, as divisões
existentes em sua organização, todos se correlacionando na dinâmica social.
Portanto, uma ciência que nos
auxilie á escarpar das garras pérfidas do fascismo é aquela que entenda o mundo
em sociedade como a estrutura complexa e ramificada que ele é, levando em conta
todas as interseções que o compõe. É aquela que considere a comunidade como um
todo na intervenção dos problemas, e não cada indivíduo como um ser isolado no
sistema. É aquela que, sobretudo não tenha como prioridade a intervenção, mas sim
a prevenção, que deve ser na forma da crítica, crítica esta que enoja e desperta
o ódio no individuo fascitoide, para que sejam elucidadas as mentiras e
contradições às quais o fascismo defende.
Por fim, diante da realidade
distópica, a qual consiste no crescimento de movimentos conservadores e de
governantes com vieses fascistas e autoritários ganhando força pelo mundo todo,
sustentados por estes primeiros, tentando a todo custo incutir os valores e
costumes de um único grupo em um mundo tão diverso e reprimir aqueles que
defendam o contrário, a ciência que hoje deve prevalecer no cenário mundial é a
de resistência.
Júlia Veríssimo Barbosa (noturno)
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