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terça-feira, 2 de abril de 2019

O pensamento mecanicista e suas engrenagens para o fascismo


  A sociedade desde seus primórdios teve de lidar com obstáculos comuns a indivíduos que decidem viver em comunidade. Porém, até o período da Idade Média o ser humano possuía uma percepção do mundo muito restrita, baseada nos preceitos religiosos de seus líderes. Contudo, com surgimento dos ideais iluministas, e com isso um pensamento mais voltado ao indivíduo, essa percepção mudou, tornando-se mecanicista e individualista, partindo do pressuposto de que tudo era isolável, tais quais peças de um relógio, como defendia René Descartes.

  A visão mecanicista consiste no isolamento dos problemas enfrentados a fim de resolvê-los de forma desconexa aos diversos componentes da sociedade, sem considerar a teia de ligações em que consiste a vida humana. Essa concepção da sociedade foi de forma louvável suficiente para a solução dos problemas enfrentados à época, contudo, passados mais de quatro séculos, a sociedade, como algo mutável, que se transforma constantemente, necessita de uma ciência que a considere em toda a sua pluralidade. Exemplo do uso, ou melhor, mau uso deste método para reger a sociedade foram os governos fascistas surgidos na Itália e posteriormente na Alemanha, que, com a crise econômica, deram a população uma de solução única de seus problemas, que se personificou na face de um inimigo comum: os judeus. Agindo como um bloco único e isolado do restante da sociedade, a população aceita o extermínio de seu pressuposto inimigo sem considerar as consequências a que isso se relaciona, movidos pelo desejo de satisfazer seus desejos, que até então não eram sequer ambiciosos, mas sim de saciar a fome de seus filhos.

  O modelo de sociedade constituído pelo fascismo em muito de assemelha ao modelo atômico de Dalton: uma esfera única e maciça, irredutível; ou seja, todos devem abdicar de sua individualidade, tornando-se parte da massa social em que se transforma a sociedade. Entretanto, tais quais os modelos atômicos foram evoluindo no decorrer da História, os modelos sociais também devem evoluir, como afirma Sônia, no filme “Ponto de mutação”, no qual defende uma percepção do mundo plural, que considere as relações sociais contidas nele. Tal visão se relaciona de forma análoga ao que afirmava Rutherford ao descrever o átomo: uma estrutura divisível, dotada de núcleo e elétrons que orbitam seu núcleo, organizados em camadas energéticas; sendo, desta forma, o Estado o núcleo da sociedade, as individualidades de cada um, os elétrons e as camadas energéticas, as divisões existentes em sua organização, todos se correlacionando na dinâmica social.

  Portanto, uma ciência que nos auxilie á escarpar das garras pérfidas do fascismo é aquela que entenda o mundo em sociedade como a estrutura complexa e ramificada que ele é, levando em conta todas as interseções que o compõe. É aquela que considere a comunidade como um todo na intervenção dos problemas, e não cada indivíduo como um ser isolado no sistema. É aquela que, sobretudo não tenha como prioridade a intervenção, mas sim a prevenção, que deve ser na forma da crítica, crítica esta que enoja e desperta o ódio no individuo fascitoide, para que sejam elucidadas as mentiras e contradições às quais o fascismo defende.

  Por fim, diante da realidade distópica, a qual consiste no crescimento de movimentos conservadores e de governantes com vieses fascistas e autoritários ganhando força pelo mundo todo, sustentados por estes primeiros, tentando a todo custo incutir os valores e costumes de um único grupo em um mundo tão diverso e reprimir aqueles que defendam o contrário, a ciência que hoje deve prevalecer no cenário mundial é a de resistência.


Júlia Veríssimo Barbosa (noturno)

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