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terça-feira, 2 de abril de 2019

Em defesa da ciência reativa

É no entendimento de que o fascismo não foi extinto com as derrotas militares das suas ditaduras na Segunda Guerra Mundial, que permanece em nós, ainda hoje, o temor de suas manifestações contemporâneas.
O neofascismo, que hoje externa-se por várias nações ao redor do mundo, adquire novas faces e por mais que não apresente fielmente as mesmas características do fascismo surgido no início do século XX, ainda  requer muita cautela. O mundo muda, as sociedades se transformam , certos desafios são superados , mas também surgem novos obstáculos e por tudo isso não podemos nos deter à velhas e específicas particularidades, que diferenciam essas expressões fascistas, para negar sua existência contemporânea . Dessa mesma maneira, as ciências e suas teorizações não podem ficar algemadas às percepções pertinentes à época em que foram desenvolvidas. Como tudo se modifica, também é necessário que certas proposições científicas se adequem ao decorrer da história e que reconheçam suas limitações.
Para que a ciência não seja apenas uma mera forma de contemplação, de labor da mente, de "pensar por pensar", mas seja útil, gerando transformações, promovendo intervenções diretas na vida dos indivíduos e na sociedade, assim como defenderam Descartes e Bacon, é necessário desenvolver um novo método de enxergar e analisar os fatos. Nesse âmbito,  a ciência transforma-se em uma importante fonte de ensinamentos para escapar do fascismo. A perspectiva mecanicista, desenvolvida por Descartes , era inovadora para o século XIX, mas para nós, hoje, torna-se ,em grau máximo, até mesmo nociva. Investigar mecanicamente uma sociedade, dividi-la em pequenas partes isoladas, semelhante ao trabalho de um relojoeiro ao consertar um relógio, não nos traria benefícios práticos para enfrentarmos essas novas ondas extremistas de direita.
No entanto, se formos capazes de desenvolver uma ciência que não enxergue os indivíduos isoladamente, mas  como parte de um sistema maior, de um conjunto em que tudo é interdependente, poderemos compreender melhor as bases do fascismo e assim criar formas de combatê-lo. O fascismo, por definição, pode ser compreendido com uma forma específica de regime político do sistema capitalista, como uma ditadura contrarrevolucionária., um oponente violento das organizações de esquerda, possuindo tendências estatizantes, conservadoras, corporativistas e extremamente nacionalistas. No Brasil, por mais que alguns desses traços não estejam presentes, ainda é oportuno alegar que vivemos tempos de expressões de ideários fascistas. Para compreendermos a origem   de tais mentalidades é preciso compreender a sociedade brasileira como um conjunto de cidadãos frustrados com a realidade política do nosso país, esgotados da persistência da corrupção e ao encontrarem alguém que promete transformar, de maneira milagrosa, esse cenário se agarram a essa esperança, a esse líder carismático, mas ao mesmo tempo hostil, que faz e fala exatamente o que a população quer ouvir, mesmo que haja nisso ideais extremistas.
É perceptível, nesse quadro, que a justificativa para essa situação encontra-se dentro de uma totalidade de fatores que envolvem igualmente todos os indivíduos. As desilusões que levam a população a buscar um "salvador da pátria" são decorrentes de fatos que atingiram toda sociedade, mas apenas alguns recorreram à tal saída, outros buscaram outras formas de resolver o problema e aí encontra-se uma maneira de combater o fascismo. Assimilar essa outra saída e divulgá-la até que se atinja o maior número de pessoas consiste numa abordagem que deveria ser incorporada pela ciência e dessa forma existiria uma possibilidade de combate ao fascismo.

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