De
acordo com o pensamento racionalista, René Descartes enxergava a natureza de
modo mecanicista, ou seja, como se ela fosse uma máquina. Nesse sentido, cada
peça dessa máquina tem uma função e analisando-as separadamente poderiam se
obter respostas que ajudariam a entender o todo, a máquina em si. Assim que a
humanidade entendesse o todo, poderiam dominar a máquina e usá-la ao seu favor.
Séculos
depois, essa forma de pensamento ainda influencia gigantescamente a sociedade
contemporânea, não apenas no âmbito científico da natureza, como no social.
Porém, ao enxergar a sociedade, objeto dos estudos das ciências humanas, sob
esse olhar, se perdem pontos importantes da vida social que são próprios da
subjetividade humana e não podem, portanto, serem aplicados à uma teoria que,
apesar de representar grande avanço, está defasada, como a Sônia, personagem do
filme O Ponto de Mutação, defende.
Além disso, pode-se ressaltar que, uma visão que se auto intitula como neutra e
distante de seu objeto de estudo, como a metodologia científica proposta pelos
racionalistas, não consegue enquadrar a sociedade nesse parâmetro, justamente
pelos pesquisadores fazerem parte de seu próprio objeto de estudo.
Porém, influenciadas
por essas ideias, surgem muitas ideologias sociais, como por exemplo, o
fascismo. É possível fazer essa afirmação devido às características das
ditaduras e sociedades fascistas: cada parte da sociedade é necessária para o
todo, cada indivíduo, seja esse operário ou militar de alta patente é
importante para o Estado, cada um tem a sua função, como no pensamento do
sistema mecanicista. É necessário ressaltar que, ideologias como essa são
extremos e que mesmo que ditaduras fascistas não existam mais atualmente,
resquícios do sistema mecanicista são intrínsecos até nas sociedades
capitalistas democratas.
Seguindo esse
raciocínio, a personagem Sônia do filme, ao dialogar com os outros dois homens,
expressa, além da crítica ao sistema mecanicista, sua afinidade com o sistema
ecológico, o qual ela defende estudar mais profundamente o objeto de estudo,
sendo o ideal para o estudo da sociedade. Segundo ela, a metodologia do sistema
ecológico, não estuda apenas a função da “parte” e sim os porquês, suas
motivações, suas falhas, suas importâncias etc.
Sendo assim, o sistema
ecológico, por não se manter na superficialidade do seu estudo, analisando
inclusive, a subjetividade das relações humanas, é o ramo da ciência com o
maior potencial para se evitar que ideologias como o fascismo voltem à ser
consideradas. Isso só é possível pois, ao se considerar toda a pluralidade dos
estudos das ciências humanas, como no sistema ecológico, se expõem todas as
lacunas presentes nas ideologias que surgem a partir do mecanicismo, o
invalidando.
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