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terça-feira, 2 de abril de 2019

As manifestações do sistema mecanicista nas ciências sociais


De acordo com o pensamento racionalista, René Descartes enxergava a natureza de modo mecanicista, ou seja, como se ela fosse uma máquina. Nesse sentido, cada peça dessa máquina tem uma função e analisando-as separadamente poderiam se obter respostas que ajudariam a entender o todo, a máquina em si. Assim que a humanidade entendesse o todo, poderiam dominar a máquina e usá-la ao seu favor.
Séculos depois, essa forma de pensamento ainda influencia gigantescamente a sociedade contemporânea, não apenas no âmbito científico da natureza, como no social. Porém, ao enxergar a sociedade, objeto dos estudos das ciências humanas, sob esse olhar, se perdem pontos importantes da vida social que são próprios da subjetividade humana e não podem, portanto, serem aplicados à uma teoria que, apesar de representar grande avanço, está defasada, como a Sônia, personagem do filme O Ponto de Mutação, defende. Além disso, pode-se ressaltar que, uma visão que se auto intitula como neutra e distante de seu objeto de estudo, como a metodologia científica proposta pelos racionalistas, não consegue enquadrar a sociedade nesse parâmetro, justamente pelos pesquisadores fazerem parte de seu próprio objeto de estudo.
Porém, influenciadas por essas ideias, surgem muitas ideologias sociais, como por exemplo, o fascismo. É possível fazer essa afirmação devido às características das ditaduras e sociedades fascistas: cada parte da sociedade é necessária para o todo, cada indivíduo, seja esse operário ou militar de alta patente é importante para o Estado, cada um tem a sua função, como no pensamento do sistema mecanicista. É necessário ressaltar que, ideologias como essa são extremos e que mesmo que ditaduras fascistas não existam mais atualmente, resquícios do sistema mecanicista são intrínsecos até nas sociedades capitalistas democratas.
Seguindo esse raciocínio, a personagem Sônia do filme, ao dialogar com os outros dois homens, expressa, além da crítica ao sistema mecanicista, sua afinidade com o sistema ecológico, o qual ela defende estudar mais profundamente o objeto de estudo, sendo o ideal para o estudo da sociedade. Segundo ela, a metodologia do sistema ecológico, não estuda apenas a função da “parte” e sim os porquês, suas motivações, suas falhas, suas importâncias etc.
Sendo assim, o sistema ecológico, por não se manter na superficialidade do seu estudo, analisando inclusive, a subjetividade das relações humanas, é o ramo da ciência com o maior potencial para se evitar que ideologias como o fascismo voltem à ser consideradas. Isso só é possível pois, ao se considerar toda a pluralidade dos estudos das ciências humanas, como no sistema ecológico, se expõem todas as lacunas presentes nas ideologias que surgem a partir do mecanicismo, o invalidando.

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