Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
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terça-feira, 2 de abril de 2019
O grito de uma sociedade em oxidação
As cores fortes e vibrantes na obra expressionista de Edvard Munch, O grito, retrata a dor existencial e a angústia que estão embaralhadas nas formas distorcidas no quadro. Essa visão de clamor representada se assemelha drasticamente a realidade de um mundo visto como mecanicista e excludente que, visa a individualidade e a atribuição do homem como um mero objeto de máquina.
Essa analogia teve seu apogeu na idade moderna quando Descartes e Bacon propuseram métodos que quebrassem os bloqueadores da mente humana, e que perpetuaram em pensamentos moldados em dogmas religiosos na idade média. Nisso, com o empirismo, racionalismo e a fragmentação como objetivo para compreender a natureza seriam soluções para um meio social petrificado. Nesse sentido, correntes humanísticas que afrontavam o teocentrismo abriram portas para uma visão mecânica da vida e individualista.
Ademais, a idéia de Descartes que relacionava o mundo a uma máquina não se insere no contexto atual e colabora para pensamentos deturpados adentrarem na sociedade. Desse modo, o individualismo e a busca incessante para solução de problemas em forma de fragmentos, trouxeram a ascensão de movimentos fascistas, assim, a ciência e a denominada evolução se tornaram símbolos de mortes e genocídios gerados pela criação de instrumentos devastadores para a humanidade.
Nesse sentido, o quadro do fascismo - presente no século XX na Itália com o governo de Mussolini e entre outros líderes extremistas- é pintado com cores vibrantes de ódio e discriminação, é retocado por sombras de discursos militaristas e nacionalistas, e por último seu pintor obtém a característica de um líder hostil e carismático que promete a satisfação dos prazeres individuais. Essa ideologia, possibilitou a criação de sociedades competitivas e corporativas, assim, pode-se observar que a permanência de um modelo mecânico que, idealiza seres humanos como peças inanimadas e substituíveis é um motor para movimentos contemporâneos como o neofascismo.
Em síntese, o quadro de Munch se convizinha com o quadro do fascismo. Além da representação do medo, os dois elementos apresentaram versões diferentes na história. A angústia e o desespero também presentes, são sentimentos que nosso mundo plural enfrenta perante a uma sociedade enferrujada e travada na busca excessiva por crescimento. Esse progresso ilusório que beneficia apenas uma classe e ignora outras possíveis problemáticas corrobora para uma crise de percepções e que, só será solucionada quando a ciência considerar que seres humanos não são objetos individuais mas sim um todo relacionado.
Do contrário, quadros facistóides ainda serão reproduzidos nessa comunidade mecânica que já está oxidando.
Ana Laura Albano, Direito (noturno)
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