Francis Bacon e René Descartes, durante o século XVII, teorizaram diferentes métodos (conjunto de regras básicas) para serem utilizados no decurso da busca pelo conhecimento. A esses métodos chamaram “métodos científicos” e cada um deles compreende numa abordagem completamente distinta do conhecimento: enquanto na abordagem empírica (ou indutiva) de Bacon o conhecimento é advindo de experiências sensoriais, na abordagem racionalista (ou dedutiva) de Descartes o conhecimento é proveniente da razão.
Apesar disso, e ainda que haja divergências entre as abordagens empirista e racionalista, o método científico idealizado por Bacon e o método científico idealizado por Descartes se assemelham no que concerne à finalidade pretendida por ambos, uma vez que tanto um quanto o outro aspiravam conceber, através de seus respectivos métodos, um conhecimento científico livre de preconceitos, do senso comum e que fosse útil para o avanço da humanidade.
Neste seguimento, as teorias baconiana e cartesiana acerca do conhecimento influenciaram grandemente os intelectuais da época e, a partir delas, decorreu uma revolução científica que modificou significativamente os princípios fundamentais da ciência vigentes naquele tempo. Lamentavelmente, séculos após à constituição desta “nova ciência”, sistemas políticos de extrema-direita como o fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha, caracterizados pelo militarismo, nacionalismo e totalitarismo, perverteram a ciência utilizando-a para propósitos cruéis.
Assumindo o sistema político fascista como exemplo, a ciência foi empregue para fundamentar o preconceito racial com base em premissas do Darwinismo Social, teoria da evolução da sociedade sustentada pela ciência da época, relativas à existência de raças superiores. Diante disso, surgiram indagações a respeito da funcionalidade dessa “nova ciência” no combate aos extremismos políticos e na estruturação dum sistema político pautado na justiça social, como as realizadas pela personagem Sonia Hoffman do filme Ponto de Mutação (Mindwalk no original), de Bernt Capra, que questiona se a ciência embasada nas teorias do conhecimento de Bacon e Descartes é, ainda, aplicável na contemporaneidade para “fazer política” e, além disso, defende o uso duma visão holística ao invés duma reducionista — esta aplicada nos métodos — , argumentando que o reducionismo não resolve as problemáticas políticas integralmente porque ele se prende a interpretar e deslindar apenas partes, mas não todo o problema.
Nessa perspectiva, é válido ressaltar que para que seja possível o desenvolvimento duma sociedade em que exista a equidade, a isonomia, o pluralismo de ideias e o respeito às diferenças de gênero, de raça e de sexualidade, isto é, uma sociedade em que não haja extremismos políticos respaldados por conhecimentos científicos infundados e segregacionistas, é essencial fazer perguntas da mesma maneira que Sonia sobre a “nova ciência”, sobre os sistemas políticos contemporâneos e anacrônicos, sobre outras maneiras de pensar cientificamente etc, porque somente o questionamento fomenta as revoluções necessárias para o progresso e, simultaneamente, combate aos preconceitos e ao senso comum, à exemplo da revolução científica.
Thayná R. de Miranda - Matutino
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