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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Positivismus modernus

Positivismus modernus

Sistematização. Uma palavra que automaticamente me remete ao ensino médio.
"A nomenclatura de Lineu é composta de dois nomes: o primeiro representa o gênero e o segundo a espécie. Ambos são em latim, por ser uma língua morta e imutável, e o primeiro nome deve SEMPRE ser grafado com a primeira letra maiúscula, e ambos os nomes devem ser escritos em itálico ou grifados com grifos separados."
Essa é a típica fala que faz com que qualquer pré-adolescente possua vontade de botar fogo na escola. Admito que já tive essa vontade,  sentada em uma sala de aula às 7h30 da manhã de segunda feira ouvindo sobre grifos separados e línguas mortas por uma hora. Hoje, porém, consigo ver a importância do feito de Lineu, apesar de ainda me parecer um trabalho massante e robótico.
Houve uma época em que novas espécies de seres vivos eram descobertas e nomeadas sem nenhum tipo de padrão, o que tornava quase impossível sua classificação em filos, classes, ordens, gêneros... Como um cientista chinês saberia que a espécie que ele descobriu é ancestral de outra descoberta na América? Lineu foi o elo entre essas duas descobertas.
A sistematização e esquematização a nível internacional une o saber científico da humanidade. Ela proporciona a ordem necessária para que o tão almejado progresso seja atingido. Porém, o método positivista de produzir saber não deve ser tido como o único, e muito menos como infalível.
Não somos pteridófitas, o movimento circular uniforme e muito menos alcanos, alcenos e alcadienos (e sim um apanhado deles). Na realidade, se tem algo que nós não somos, esse algo é uniforme. Somos formas de vida complexas inseridas em teias sociais mais complexas ainda. Possuímos ideologias, religiões, crenças, moral, caráter e personalidade. Não é possível ignorar variáveis dessa magnitude no estudo sociológico de nossa espécie, variáveis essas que não podem ser compreendidas pelo método científico.
Um exemplo da influência do positivismo em ciências humanas é o do pai da criminologia moderna, Cesare Lombroso. Ele criou a teoria do Criminoso Nato após estudar exaustivamente a fisionomia de loucos, criminosos e prostitutas. Seus estudos foram realizados como prega a cartilha positivista, porém atualmente os vemos como algo, no mínimo, bizarro (para não dizer extremamente preconceituoso e simplista).
Hoje, entendemos que o que faz com que alguém cometa um crime não é seu nariz adunco ou seu queixo protuberante, e sim seu plano de fundo socioeconômico, algum possível distúrbio mental, um trauma de infância, falhas em sua formação de caráter, falta de ajuda da sociedade, marginalização... A lista é longa e nem um pouco exata.
Basta pensarmos que, se Lombroso fizesse seus estudos no Brasil atual, ele chegaria à conclusão de que o Criminoso Nato é negro, pobre, advindo de comunidades populares - quando a política brasileira e sua elite econoômica são evidências concretas de que essa conclusão é extremamente errada.

P.S.: há um minúsculo erro no título deste texto de acordo com a nomenclatura de Lineu, que pode ser interpretado como uma ligeira birra minha e um lembrete de que o sarcasmo, a ironia e o humor também são variáveis que não podem ser sistematizadas. 

Lara Estrela Balbo Silva 
1º ano Direito - Noturno


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