Uma vez, alguém que se achava muito sábio, um tal de Auguste
Comte, disse que descobriu uma lei fundamental para compreensão do mundo: depois
de passar pelos estados teológico e metafísico, o estado definitivo e
inevitável das coisas seria o positivismo, que tem como objetivo achar as
outras leis invariáveis da natureza. Ao longo dos anos, as ideias desse tal de
Comte serviram de catalizador para muitos avanços científicos, mas também para
muitos sofismas que eu gostaria de contestar:
"Para o bem da nossa nação
Ajustemo-nos ao padrão."
Padrão? O que é padrão? Oh, grande família burguesa! Papai,
mamãe, amante e filhinhos! Que amor! O que chamam de lei absoluta eu prefiro
chamar de cegueira seletiva. É que eu acho muito fácil dizer que achou um padrão
quando se olha só para a parte que convém. Ei, você escondeu a sujeira embaixo
do tapete: sua casa parece limpa, mas ela só parece. Essa normalidade será que
existe? O que você, Sr. Normal, faz quando ninguém está olhando? Será que esse
conceito de padrão não machuca muita gente? O que você, Sr. Normal, deixa de
fazer quando alguém está olhando?
"Ordem para o progresso,
revolução é um retrocesso."
A ordem é fazer dinheiro. Mas será que dinheiro é sinônimo
de progresso? De onde veio essa noção de progresso? Será que essa força para
conter revoluções não vem dos interesses de um grupo pequeno? Nossa, percebi
que estou fazendo algo muito errado para o tal de Comte, estou pensando nas
causas primeiras das coisas. Desculpa, não posso evitar. Mas existe efeito sem
causa? Como eu vou entender o efeito sem saber a causa?
"Não é recomendada a sociedade essa subversão,
mas se der dinheiro aparece na televisão."
Falando em revolução... ultimamente anda acontecendo algo
muito engraçado: o que era marginal aparentemente virou moda. O cabelo que era
dito feio há dez anos, hoje aparece nos comercias. Aquela cantora Linn da
Quebrada, também conhecida como “ bicha estranha, louca, preta da favela”,
apareceu na Globo. Parece que empoderamento dos marginalizados virou estratégia
de marketing e que ser fora do padrão virou padrão.
Oras, falar de lei imutável é muito difícil porque mexe com
o conceito de verdade. O que é verdade? Eu prefiro parafrasear um sábio que não
sabia nada e dizer que “ só sei que nada sei”. Na ciência, que Comte ajudou a
ser tão valorizada como argumento, uma teoria para ser aceita como verdade tem
de ter os mesmos resultados não importando o número de experiências que forem
feitas com ela. Então, se esse Comte achou uma teoria absoluta, porque minha
experiência e a de muitos não tem os mesmos resultados que os dele?
Acho que esse tal de Comte se julgou muito sábio e fez muito
estrago.
Nenhum comentário:
Postar um comentário