“Política
e religião não se discutem”. Durante toda a vida essa frase foi repetida para
mim como o símbolo máximo do encerramento de conversas espinhosas que
carregavam em seu conteúdo algum destes temas. Peço licença, neste momento, para
colocar a religião de lado e focar na política e no sentido restritivo que esta
frase carrega.
O
cenário atual da política brasileira, de demasiada instabilidade e de
recorrentes denúncias por corrupção, exige, mais do que por mero capricho, a
participação e discussão densa e intensa de nós, cidadãos médios. Nós que desde
pequenos somos treinados a não pensar sobre isso ou a não discutir este tema a
fim de preservar certos valores morais, hoje colhemos a dolorosa safra de
indivíduos que ou não interferem na política ou se mantém muito aquém do
necessário nessa discussão.
Comte,
em 1830, lançou uma análise sobre os estágios do pensar do ser humano que podem
ser divididos em três. O primeiro – estado teológico – configura-se como a fase
da imaginação. A mais primitiva das fases coloca o entendimento do ser humano
como mero objeto de sua imaginação e, consequentemente, seu desenvolvimento
racional limita-se a entender sua realidade como obra de divindades,
mantendo-se saciado com esse conhecimento.
O
segundo estágio de compreensão, segundo Comte, é o metafísico, baseado na
argumentação. Nesse estágio o ser humano tende a colocar de lado sua plena
confiança de que tudo é porque é e passa a depositar seu entendimento nas
forças das ideias. E por fim, o último estágio do desenvolvimento racional seria
o pensamento positivo, ou seja, a compreensão de realidade agora reside no
campo da observação.
Analogamente
à situação brasileira atual pode-se verificar a coexistência destes três
estágios na relação social estabelecida e na compreensão da importância de
participação política. A discussão deste tema, por muitos evitada, é a chave
para sua transformação. O Brasil vive uma polarização profunda que
descaracteriza e desconfigura a real profundida e amplitude política, deixando
um vácuo social que permite, em um primeiro momento, duas coisas: a manipulação
de massas e a infiltração de correntes ideológicas reacionárias no poder, que, combinados,
são uma ameaça às conquistas sociais e aos avanços progressistas. Tendo isso em
vista, se faz necessária, portanto, a desmistificação do lema “política não se
discute”, pois, se não formos nós a discuti-la, não serão os nossos interesses
aqueles atendidos.
Marina
R. Christensen, noturno, turma XXXIV
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