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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Pensar a política

“Política e religião não se discutem”. Durante toda a vida essa frase foi repetida para mim como o símbolo máximo do encerramento de conversas espinhosas que carregavam em seu conteúdo algum destes temas. Peço licença, neste momento, para colocar a religião de lado e focar na política e no sentido restritivo que esta frase carrega.
O cenário atual da política brasileira, de demasiada instabilidade e de recorrentes denúncias por corrupção, exige, mais do que por mero capricho, a participação e discussão densa e intensa de nós, cidadãos médios. Nós que desde pequenos somos treinados a não pensar sobre isso ou a não discutir este tema a fim de preservar certos valores morais, hoje colhemos a dolorosa safra de indivíduos que ou não interferem na política ou se mantém muito aquém do necessário nessa discussão.
Comte, em 1830, lançou uma análise sobre os estágios do pensar do ser humano que podem ser divididos em três. O primeiro – estado teológico – configura-se como a fase da imaginação. A mais primitiva das fases coloca o entendimento do ser humano como mero objeto de sua imaginação e, consequentemente, seu desenvolvimento racional limita-se a entender sua realidade como obra de divindades, mantendo-se saciado com esse conhecimento.  
O segundo estágio de compreensão, segundo Comte, é o metafísico, baseado na argumentação. Nesse estágio o ser humano tende a colocar de lado sua plena confiança de que tudo é porque é e passa a depositar seu entendimento nas forças das ideias. E por fim, o último estágio do desenvolvimento racional seria o pensamento positivo, ou seja, a compreensão de realidade agora reside no campo da observação.
Analogamente à situação brasileira atual pode-se verificar a coexistência destes três estágios na relação social estabelecida e na compreensão da importância de participação política. A discussão deste tema, por muitos evitada, é a chave para sua transformação. O Brasil vive uma polarização profunda que descaracteriza e desconfigura a real profundida e amplitude política, deixando um vácuo social que permite, em um primeiro momento, duas coisas: a manipulação de massas e a infiltração de correntes ideológicas reacionárias no poder, que, combinados, são uma ameaça às conquistas sociais e aos avanços progressistas. Tendo isso em vista, se faz necessária, portanto, a desmistificação do lema “política não se discute”, pois, se não formos nós a discuti-la, não serão os nossos interesses aqueles atendidos.


Marina R. Christensen, noturno, turma XXXIV

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