“Durante a última reunião
com seu secretariado, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB),
criticou a Fapesp (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo),
principal órgão de financiamento à ciência no Estado, por priorizar estudos sem utilidade prática. Segundo
a mídia, Alckmin fez críticas ao incentivo a pesquisas da área de Sociologia e
à falta de apoio a estudos para o desenvolvimento da vacina da dengue. A Folha confirmou a fala do
governador, que disse que a Fapesp vive numa bolha acadêmica desconectada da
realidade, financia estudos que muitas
vezes não têm nenhuma serventia prática e gasta sem orientação maior.”
[...]
http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2016/04/1765028-alckmin-critica-fapesp-por-pesquisas-sem-utilidade-pratica.shtml Acesso em: 12/08/2017.
Tal
declaração inusitada e polêmica do Governador do Estado de São Paulo gerou
aguerridos debates sobre a importância das Ciências Humanas e Sociais para a
pesquisa científica acadêmica brasileira em relação às Ciências Tecnológicas,
Biológicas e Exatas. Por mais que a fala de Alckmin seja contraditória, uma vez
que do total de desembolsos da FAPESP apenas 10%
foram destinados à área de Ciências Humanas e Sociais em 2015, observa-se um
caráter positivista de Comte no pronunciamento do político assim como no senso
comum da maioria dos brasileiros.
A
Física Social, sem anacronismos, em sua época de criação, vinha com o propósito
de firmar as supostas “leis” que regem toda sociedade através de três estágios
necessários para o “DESENVOLVIMENTO POSITIVO”: Teológico (viés sobrenatural);
Metafísico (intermediário); Positivo (Estágio final e efetivo). Este, através
de um processo necessário de amadurecimento do espírito humano pelos estágios
anteriores, rumava para o progresso de toda sociedade pelo desenvolvimento
tecnológico e científico. Por esse prisma, analisa-se que, transpassando-se tal
Filosofia na dinâmica contemporânea em que há complexas sociedades ocidentais e
orientais, tudo que não diz respeito ao estágio positivo de Comte é considerado
não desenvolvido. Ou seja, julga-se valorativamente sociedades, hábitos,
culturas, costumes e até mesmo o próprio meio acadêmico, como na reportagem,
por um cânone de desenvolvimento que despreza toda a conjuntura
histórico-social de cada sociedade: uma visão discriminatória e, muitas vezes,
eurocêntrica em detrimento da diversidade.
Nesse sentido, assim como uma tribo
indígena é vista por olhares externos como menos avançada/desenvolvida, tudo o
que rege as relações humanas, atualmente, estão sendo interpretadas pelo
desenvolvimento positivista tecno-científico. A realidade das bolsas
científicas desse ensino precarizado e desmotivado, oferecidas pelos principais
órgãos do Estado de São Paulo, assim como no país todo, também sofrem por essa
metamorfose positivista no bojo de suas diretrizes. Tal defasagem de pesquisas
na área de Ciências Humanas e Sociais demonstra a falta de incentivo por algo
que não condiz com o desenvolvimento ideal e progressista. Logo, não culpemos a
declaração vexatória de Alckmin, afinal, ele apenas direciona sua concepção
ideológica à ORDEM e ao PROGRESSO do país.
Débora Amorim de Paula – 1º
ano Direito – DIURNO
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