Total de visualizações de página (desde out/2009)

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Não culpemos Alckmin!

“Durante a última reunião com seu secretariado, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), criticou a Fapesp (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo), principal órgão de financiamento à ciência no Estado, por priorizar estudos sem utilidade prática. Segundo a mídia, Alckmin fez críticas ao incentivo a pesquisas da área de Sociologia e à falta de apoio a estudos para o desenvolvimento da vacina da dengue. A Folha confirmou a fala do governador, que disse que a Fapesp vive numa bolha acadêmica desconectada da realidade, financia estudos que muitas vezes não têm nenhuma serventia prática e gasta sem orientação maior.” [...]

        Tal declaração inusitada e polêmica do Governador do Estado de São Paulo gerou aguerridos debates sobre a importância das Ciências Humanas e Sociais para a pesquisa científica acadêmica brasileira em relação às Ciências Tecnológicas, Biológicas e Exatas. Por mais que a fala de Alckmin seja contraditória, uma vez que do total de desembolsos da FAPESP apenas 10% foram destinados à área de Ciências Humanas e Sociais em 2015, observa-se um caráter positivista de Comte no pronunciamento do político assim como no senso comum da maioria dos brasileiros.  
           A Física Social, sem anacronismos, em sua época de criação, vinha com o propósito de firmar as supostas “leis” que regem toda sociedade através de três estágios necessários para o “DESENVOLVIMENTO POSITIVO”: Teológico (viés sobrenatural); Metafísico (intermediário); Positivo (Estágio final e efetivo). Este, através de um processo necessário de amadurecimento do espírito humano pelos estágios anteriores, rumava para o progresso de toda sociedade pelo desenvolvimento tecnológico e científico. Por esse prisma, analisa-se que, transpassando-se tal Filosofia na dinâmica contemporânea em que há complexas sociedades ocidentais e orientais, tudo que não diz respeito ao estágio positivo de Comte é considerado não desenvolvido. Ou seja, julga-se valorativamente sociedades, hábitos, culturas, costumes e até mesmo o próprio meio acadêmico, como na reportagem, por um cânone de desenvolvimento que despreza toda a conjuntura histórico-social de cada sociedade: uma visão discriminatória e, muitas vezes, eurocêntrica em detrimento da diversidade. 
       Nesse sentido, assim como uma tribo indígena é vista por olhares externos como menos avançada/desenvolvida, tudo o que rege as relações humanas, atualmente, estão sendo interpretadas pelo desenvolvimento positivista tecno-científico. A realidade das bolsas científicas desse ensino precarizado e desmotivado, oferecidas pelos principais órgãos do Estado de São Paulo, assim como no país todo, também sofrem por essa metamorfose positivista no bojo de suas diretrizes. Tal defasagem de pesquisas na área de Ciências Humanas e Sociais demonstra a falta de incentivo por algo que não condiz com o desenvolvimento ideal e progressista. Logo, não culpemos a declaração vexatória de Alckmin, afinal, ele apenas direciona sua concepção ideológica à ORDEM e ao PROGRESSO do país.
Débora Amorim de Paula – 1º ano Direito – DIURNO

Nenhum comentário:

Postar um comentário