Eu
me organizando posso desorganizar
“O
Brasil está um caos, onde ninguém mais respeita a autoridade, onde ninguém mais
tem medo das leis, e para acabar com a corrupção e com a violência precisamos
de um governante que ponha ordem no país”. Nunca esse discurso ganhou tanta
força no Brasil atual, como se todos os problemas sociais e políticos
decorressem da nossa suposta “anarquia” e nós nunca tivéssemos passado por duas
longas ditaduras, nas quais a autoridade do Presidente, do General era suprema,
e qualquer desvio de conduta – na verdade, questionamento – era punido com
rigor; e mesmo assim os problemas não só continuaram, como alguns pioraram.
Com
base nesse discurso autoritário é que a população brasileira tem caído no canto
da sereia – ou da besta – para escolher seus futuros representantes, e não
consegue enxergar que está depositando suas fichas não no salvador dos seus
problemas, mas nos causadores deles. Afinal, é decorrente da suposta “ordem”
pretérita que se consolidaram as formas mais torpes de patrimonialismo, pelas
quais o público e o privado se confundem e foram usados como ferramentas de
fazer política, de governabilidade, dando origem à corrupção sistêmica que
assola nosso país; e, consequentemente, impacta na prestação eficiente dos
principais serviços públicos, como educação, saúde, segurança pública, pois os
seus gestores, em grande maioria, não são pessoas compromissadas com a causa
pública, muitas vezes nem qualificação têm para tal responsabilidade, são
apenas apadrinhados políticos, que estão lá para facilitar as ambições de seus
mentores: como desviar dinheiro público para irrigar campanhas, receber
propinas de contratos superfaturados ou gastar a verba com coisas
desnecessárias para atender os interesses eleitorais do seu padrinho.
Por
isso que a corrupção e a violência só aumentam, não é pela “desordem”, mas,
sim, pela toda ordem estabelecida que visa somente a manutenção do poder e o
privilégio de poucos em detrimento da população, causando toda a roubalheira
exposta atualmente e a falência dos serviços estatais, como a segurança
pública.
Então,
quando Comte diz que somente uma sociedade bem organizada, pautada pela ordem
rígida é que progride, isso me dá um asco ! Pois a meu ver é só para legitimar
a dominação do Estado por uma minoria e fazer com que a gente acredite que a
abissal desigualdade social existente é fruto de uma ordem natural estável, sem
a qual a sociedade não evolui.
O
sociólogo Sérgio Buarque de Holanda já ensinava sabiamente que, no Estado
Brasileiro, o conceito de ordem significa privilégios. Mas acho que ensina
melhor ainda o rapper Marcelo D2
quando diz que é nós população é que temos de nos unir – afinal, é a gente que
é maioria e tem força para romper com a velha ordem – a fim de lutar pela
garantia básica dos nossos direitos e fiscalizar todos os nossos governante e
gestores públicos para que não esqueçam a quem ele servem, ideia marcante na
passagem: “EU ME ORGANIZANDO POSSO DESORGANIZAR”.
John R. Angelim Novais, Direito, 1º ano, Noturno.
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