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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Eu me organizando posso desorganizar

“O Brasil está um caos, onde ninguém mais respeita a autoridade, onde ninguém mais tem medo das leis, e para acabar com a corrupção e com a violência precisamos de um governante que ponha ordem no país”. Nunca esse discurso ganhou tanta força no Brasil atual, como se todos os problemas sociais e políticos decorressem da nossa suposta “anarquia” e nós nunca tivéssemos passado por duas longas ditaduras, nas quais a autoridade do Presidente, do General era suprema, e qualquer desvio de conduta – na verdade, questionamento – era punido com rigor; e mesmo assim os problemas não só continuaram, como alguns pioraram.
Com base nesse discurso autoritário é que a população brasileira tem caído no canto da sereia – ou da besta – para escolher seus futuros representantes, e não consegue enxergar que está depositando suas fichas não no salvador dos seus problemas, mas nos causadores deles. Afinal, é decorrente da suposta “ordem” pretérita que se consolidaram as formas mais torpes de patrimonialismo, pelas quais o público e o privado se confundem e foram usados como ferramentas de fazer política, de governabilidade, dando origem à corrupção sistêmica que assola nosso país; e, consequentemente, impacta na prestação eficiente dos principais serviços públicos, como educação, saúde, segurança pública, pois os seus gestores, em grande maioria, não são pessoas compromissadas com a causa pública, muitas vezes nem qualificação têm para tal responsabilidade, são apenas apadrinhados políticos, que estão lá para facilitar as ambições de seus mentores: como desviar dinheiro público para irrigar campanhas, receber propinas de contratos superfaturados ou gastar a verba com coisas desnecessárias para atender os interesses eleitorais do seu padrinho.
Por isso que a corrupção e a violência só aumentam, não é pela “desordem”, mas, sim, pela toda ordem estabelecida que visa somente a manutenção do poder e o privilégio de poucos em detrimento da população, causando toda a roubalheira exposta atualmente e a falência dos serviços estatais, como a segurança pública.
Então, quando Comte diz que somente uma sociedade bem organizada, pautada pela ordem rígida é que progride, isso me dá um asco ! Pois a meu ver é só para legitimar a dominação do Estado por uma minoria e fazer com que a gente acredite que a abissal desigualdade social existente é fruto de uma ordem natural estável, sem a qual a sociedade não evolui.

O sociólogo Sérgio Buarque de Holanda já ensinava sabiamente que, no Estado Brasileiro, o conceito de ordem significa privilégios. Mas acho que ensina melhor ainda o rapper Marcelo D2 quando diz que é nós população é que temos de nos unir – afinal, é a gente que é maioria e tem força para romper com a velha ordem – a fim de lutar pela garantia básica dos nossos direitos e fiscalizar todos os nossos governante e gestores públicos para que não esqueçam a quem ele servem, ideia marcante na passagem: “EU ME ORGANIZANDO POSSO DESORGANIZAR”.

John R. Angelim Novais, Direito, 1º ano, Noturno.

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