Montpellier,
8 de agosto
Essa carta que vos escrevo retrata o
que pode ser o fim de nossa – digo nossa, embora possa ser chamada de vossa –
teoria. O positivismo fora alcançado com a descoberta da fórmula do que, na sua
época, era chamado de amor – que hoje, é intitulado de Discidt. Não havia vos
contado antes o tal êxito positivista, por ocasião, e admito: os louros
consequentes do meu sucesso cegaram-me, de tal modo, que não pude, por egoísmo,
compartilhá-los convosco, anteriormente.
Voltando após essa breve digressão,
o teorema do Discidt fora alcançado a partir do desenvolvimento da física, da
engenharia genética e da medicina. Reafirmando a certeza – desculpe a
redundância – da priorização das ciências exatas e biológicas em detrimento das
humanidades no mundo intelectual universitário. Desenvolvi, pois, um algoritmo
que permite mensurar o amor entre as pessoas, sobretudo, os casais. Essa
fórmula, absoluta e invariável, por si só e consequentemente, concedeu o
desenvolvimento máximo à sua sociologia e à ciência jurídica.
O Direito, fora a ciência que mais
conseguimos evoluir e que chegamos – ao menos era o que acreditávamos, até
então – ao desenvolvimento máximo. O Discidt teorizado gerou no Direito o que
chamamos de má-fé matrimonial, podendo condenar, indistintamente, todas as pessoas
que não amam seus cônjuges.
Há, no entanto, algo que não saiu
como o planejado, e é por isso que vos convoco a ajudar-me. A sociedade atual é
formada, exclusivamente, por casais heterossexuais, uma vez que, a anomalia
homossexual fora, com êxito, comprovada e extinguida. Os casais naturais,
todavia, começaram a dissolver-se, em função das sanções judiciais movidas em
face aos cônjuges que praticavam a má-fé matrimonial supracitada. Eis que,
portanto, muitos dos condenados, encarcerados, apresentaram comportamentos
homoafetivos e, após a averiguação do índice do Discidt, era positivo o afeto
entre aqueles.
Por fim, o que por vós fora tanto
pregado e que por mim tão ferreamente primado, entra em paradoxo. A anomalia
torna-se normal, assim como, a normalidade torna-se anormal a ponto de
subverter e comprometer a ordem positiva. Vós, como expoente máximo da ciência
positiva, poderíeis, pois, conservar a mentalidade positivista universal e aqui
está o convite.
Atentamente,
Libitino Diligeu
PEDRO CABRINI MARANGONI - noturno
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