Políticas
públicas efetivas no Brasil muitas vezes parecem uma utopia, principalmente
quando essas são voltadas para as partes mais oprimidas da população. É
evidente a grande disparidade social existente entre afro-brasileiros e brancos
no país, fato evidenciado pela desumanização do povo negro desde de antes de
sua violenta e forçada vinda às américas. Este povo, subjugado e privado da
educação até pouco tempo atrás, verá a Lei de Cotas, medida de reparação
histórica e acessibilidade às universidades, revisada em um período de
desvalorização e preconceito explícitos na sociedade brasileira.
Entender
a necessidade da Lei de Cotas, é reconhecer o Estatuto da Igualdade Racial, conjunto
de regras e princípios jurídicos que visam a coibir a discriminação racial e
diminuir a desigualdade social existente entre os diferentes grupos raciais, e
compreender que a revisão aponta a incompreensão da importância e funcionalidade
das políticas afirmativas, principalmente do impacto e magnitude da questão
racial no Brasil. Paralelo a isso, a partir do curta-metragem, Bluesman, de
Baco Exú do Blues, cantor de rap baiano, o fenômeno da depreciação do povo
negro se faz mais evidente, visto que a maioria da população, isto é, pretos e
pardos, se tornou minoria. Esta “ironia” é consequência de uma cultura racista,
violenta e marginalizadora, praticada por uma elite caucasiana há mais de 500
anos, simulando a exploração mineral, onde valorizam mais o ouro, metal mais
escasso na natureza, em detrimento da prata, metal puro e abundante.
Esta medida está longe de ser ideal, devido a fragilidade do ensino básico
brasileiro que abarca a maior parte da população preta/parda do país, pois,
como lembra René Descartes em O Discurso do Método, “nada de sólido se pode
construir sobre alicerces tão pouco firmes.” Outrossim, este ensino encontra-se
defasado pela realidade desesperançosa desse povo, que enfrentam a fome, a
falta de oportunidades, a marginalização (vida afastadas do centro urbanos,
geralmente nas periferias e favelas), a repressão policial, o crime e a
drogadição presente no dia a dia da comunidade, além de injúria e discriminação
racial em todos os ambientes que possam frequentar. Portanto, em sintonia com
Francis Bacon, filósofo inglês, em sua obra Novo Organum, toda a história por
trás dessa política pública precisa ser revisada, estudada e reparada, não
bastam medidas momentâneas.
Como
mencionado pelo professor Dagoberto José Fonseca, “o Brasil carece de políticas
a favor da equidade”, evidenciando dessa forma, uma negligência pautada no
racismo estrutural de replicação de preconceitos e desumanização. Logo, a
revisão da Lei de Cotas e sua determinação posterior dirão muito sobre o tipo
de sociedade que os brasileiros desejam ser, pois não se trata de um
compromisso do povo afro-brasileiro, mas sim de toda sociedade. Não suficiente,
é fundamental uma restauração na estrutura para que não se ande em círculos sem
gerar um resultado que impacte efetivamente o público alvo, visto que esse
direito não deve sofrer retrocesso, mas ampliação, para que pretos, pardos e
indígenas sejam uma realidade nas universidades e que o amanhã não seja um novo
ontem com um novo nome, como diz Emicida.
Eduardo Damasceno - Turma XXXVIII (noturno)
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