O Brasil foi o último país das Américas a eliminar a escravidão de sua
realidade, porém, as mazelas sociais que se originaram após um longo período
escravista, ainda permanecem enraízados em nossa sociedade. Tanto que a política
de cotas, instituída a partir de 2012, que busca reparar um problema crônico de
representatividade nas universidades, cargos públicos e de poder, ainda possui
tanta oposição que foi um dos temas de discussão da XI Jornada de Direito
promovida pelo CADIR da UNESP de Franca.
Suportado por discursos carregados de preconceitos e sem qualquer
embasamento científico, certos grupos políticos e alguns outros segmentos da
sociedade, alimentam-se das distorções provocadas pela mente humana e da fácil
aceitação dela pelo senso comum e vendem a ideia de não haver a necessidade de
que se mantenha uma política de cotas ou que ela não é mais necessária, uma clara
reprodução do que Francis Bacon em “Novum Organum” nomeia de Ídolos. Porém,
a inclusão de negros, mestiços e indígenas nas universidades públicas desde a
incorporação das cotas, trouxe uma nova visão sobre problemas sociais que antes
eram pouco debatidos ou ignorados propositalmente. Desta forma, proporcionado
pela diversidade em diversas áreas, um novo espaço surge para que discussões
sobre o racismo sistêmico, as diferenças sociais abissais e os direitos das minorias
adentrem a vida acadêmica, política e atinjam a opinião pública, um passo inicial de
conscientização e entendimento. Descartes nos ensina que a melhor forma para
chegar à clareza é por meio da dúvida, sendo a verdade nossa tomada de
consciência, algo exatamente que está sendo proporcionado através da política
cotas que questionam o pré-estabelecido. Assim, através do uso da razão e das
experiências, as ações afirmativas buscam ressignificar a sociedade, tocando nas
chagas sociais e mostrando a verdadeira raiz do problema.
Todavia, a discussão sobre o tema pode perder seu caráter baseado na
razão para se transformar em um debate de cunho puramente ideológico e
distorcido, um retrocesso de ideias que deve ser combatido com conhecimento.
Assim, a representatividade é de extrema importância para a consolidação da
democracia brasileira e suas diferentes vozes. Porém, ela só será possível inserindo
consciência em seu povo e, deste modo mitigar a herança do nosso passado
colonialista e escravista; provedor dos preconceitos e do abismo social que penetra
e machuca nosso povo negro, indígena e mestiço por séculos. A Racionalidade irá
nos afastar dos falsos ideais meritocratas, amplamente amparados pelo senso
comum, e a ignorância, para finalmente fazer uso da razão como método conforme
a visão de Descartes, a ciência que visa o bem, um elemento voltado para
desenvolvimento e bem estar humano.
Claudio Pacheco Marinheiro - Turma XXXVIII (Noturno)
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