Após 400 anos de escravidão e cerca de 150 anos de negligência governamental, e apesar do
legado histórico dos Ilustradores com seu ideal de igualdade como um dos elementos basilares
da vida humana e de sua expressão no que tange nossa Constituição Federal, é tácita as
condições injustas no cenário econômico-sociológico aos quais negros se encontram. Com isso,
faz-se necessária a formação de uma consciência de modo a garantir com que tal grupo social
posso ascender socialmente, a saber, por meio das Cotas Raciais.
Às vezes é um olhar, às vezes é um comentário, e outras vezes é sua vida: o racismo ainda é
vivo e mortífero na sociedade brasileira. Estando ele desde sempre estruturado no sistema,
observou-se historicamente o quanto o humano é desumano, a saber pela negação da
atribuição da dignidade ao povo de origem africana. Assim, e assumindo que a experiência é
escrava da razão, sabemos que caso não reparemos o que outrora fora feito e não feito pelo
governo, estaríamos condenando a população negra às condições de vida a qual não lhes é
merecida, por futuras eras indeterminadas. Logo, observa-se a Lei das Cotas como um
importante mecanismo de reparação histórica e justiça social, sendo ela um intermediário,
para enfim, uma sociedade calcada na igualdade.
É necessário que os negros possam atingir patamares elevados de influência da sociedade,
uma vez que através deles, poderíamos demover da sociedade o racismo, rompendo com
padrões, estereótipos e outros pré-conceitos que os envolve. A exemplos:
a) Por meio das cotas raciais, poderíamos ver a maior inserção dos negros no meio
acadêmico-universitário, onde se faz ciência. Tendo como natureza das ciências sua
tendência à realização do bem comum para a sociedade, garantindo o apuro da
civilização humana, ter figuras negras a frente de projetos científicos seria um grande
vetor de elevação de seus status na sociedade, contribuindo também, a exemplo, para
o rompimento da falsa noção de negros são mamíferos intelectualmente inferiores.
b) Acontece que o racismo também permanece vivo através do estabelecimento de
estereótipos, muitas vezes forçados pelos meios de entretenimento. Padrões de
beleza e outros conceitos se constroem pelas grandes revistas e firmam-se no senso
comum. Tais meios criam ídolos, falsas percepções de como as coisas são, o que
necessariamente distorce a mente do indivíduo que consome esses produtos e
serviços, formando pessoas que vão ter o cabelo crespo como “ruim e feio” e “a loira
dos olhos azuis” como padrão de beleza. É sabido que eventos familiares do cotidiano
do indivíduo, como o que ele consome, é base para a mais fácil aceitação de qualquer
que for o conhecimento comum; logo, a fim de progredirmos no que diz respeito a
busca pela igualdade racial, faz-se necessária assistência do governo para o mais fácil
acesso da população negra nos grandes meios de entretenimento, ultrapassando
todos esses estereótipos e resgatando a beleza negra.
Em suma, é lamentável ver uma criatura de Deus chicoteando outra, e é de alegria que ambas
se abracem e deixem de atribuir mérito ou demérito à estirpe um do outro. A clareza é um
importante critério para a verdade, e é clara a relevância de políticas afirmativas para a
superação de séculos de erros e formação de obstáculos.
Fernando Carvalho da Silva
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