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segunda-feira, 28 de junho de 2021

A Casa Grande surta quando a Senzala aprende a ler.

A tardia abolição da escravatura no Brasil estabeleceu o legado da marginalização do povo preto em uma nação majoritariamente composta por eles. Os motivos da demora em se reconhecer a liberdade dos escravos são um dos pilares para se entender a sociedade brasileira racista atual, visto que a formação do país foi sustentada pelo pensamento escravocrata e conservador da minoria étnica branca. Dessa forma, as políticas afirmativas se consolidam como meio para mitigar os danos causados pelo atraso brasileiro na libertação da população preta.

Assim como o movimento abolicionista foi recente na nação, a política de cotas raciais foi implementada apenas no século XXI, enquanto outros países já apresentaram esta resolução no século passado. Devido à volta de líderes da extrema-direita nas esferas públicas há a persistência do pensamento eugenista frente aos avanços, mesmo que em passos lentos, da conquista de ambientes antes negados aos pretos. A revisão da política de cotas em 2022 denuncia a tentativa de exclusão da maioria étnica, já que a discussão não será para propor novos mecanismos de inclusão, mas retornar a maioria branca nos espaços da universidade.


Assim, é materializado na sociedade brasileira o ídolo da caverna proposto pelo filósofo inglês Francis Bacon, dado que a população acredita no posicionamento que cotistas estariam roubando a oportunidade apenas pelo fato de terem a cor de pele diferente. No entanto, esse senso comum carrega o pensamento racista na sua máxima expressão, pois o mito da meritocracia os leva a acreditar que todos possuem as mesmas condições socioeconômicas e históricas para competir em um processo seletivo profundamente elitista. Somado a isso, a metodologia de duvidar, desenvolvida por Descartes, não tem espaço, uma vez que o questionamento desta realidade significaria a conscientização da segregação racial e, consequentemente, a abertura para que os pretos possam participar de forma efetiva e digna de lugares elitista.


Dessa forma, a célebre frase "a casa grande surta quando a senzala aprende a ler" nunca foi tão expressiva após 132 anos do fim da escravidão. O retorno de figuras públicas que expressam o racismo escancarado invalida o êxito da política de cotas ao possibilitar o aumento de 9,8% de pretos e pardos na universidade. Portanto, as cotas surgem mais do que mero reparo social, mas uma necessidade para incentivar o fim da supremacia branca.


Bruna Soares Teixeira - Direito noturno


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