Por 500 anos o Brasil tem sido um país extremamente racista. Após 300 anos de escravidão, essa é abolida em 1889, o que torna o Brasil o último Estado da América a aboli-la. Todavia, isso ocorre de uma maneira que mantem na população negra as mesmas possibilidades de ascensão e estabilidade que tinham quando escravizados. Mais um exemplo do atraso brasileiro em políticas de equidade racial está no fato de que apenas em 2012 foram adotadas políticas públicas em âmbito federal que visavam ampliar as oportunidades do negro em adentrar a Universidade, um espaço ocupado por uma elite branca - mesmo o Brasil tendo uma maioria populacional preta -, enquanto o restante do mundo fizera isso ainda no século XX.
Recentemente, teve início a discussão que visava a reformulação das políticas das cotas no Brasil. Realizada por uma elite supremacista, essa reformulação objetiva um retrocesso das ações afirmativas. Dessa forma, pode-se facilmente perceber que tal ação representa uma continuidade de uma política genocida praticada na gênese do colonialismo, pautada em um forte darwinismo social.
Ademais, percebe-se, além de uma lógica racista de supremacia branca, um pensamento extremamente racionalista cartesiano que ignora, conscientemente, as experiências vividas pela população negra em um país tão segregacionista quanto o Brasil. Entretanto, diferentemente de Descartes, que não leva as sensações em consideração na formulação de um raciocínio, o grupo responsável por essa alteração tem total discernimento das necessidades vividas pela população negra, ignorando-as, não por considerá-las equivocadas, mas por verem nelas uma forte oportunidade de mantimento do poder na mão de poucos.
Segundo o empirista Francis Bacon, “conhecimento é poder”. Nesse sentido, impedir o acesso da população afrodescendente à Universidade significa restringir o conhecimento a um seleto grupo de brancos de classe média e alta. Com isso, pode-se entender que, mantendo-os ignorantes, jamais desenvolverão mecanismos científicos, técnicos e sociais (jamais desenvolverão poder) para reivindicar direitos para uma vida mais digna, para atingir a ascensão.
Apesar de representarem escolas filosóficas opostas, sendo Descartes um ferrenho símbolo do Racionalismo, e Bacon um forte expoente do Empirismo inglês, ambos buscavam meios para uma ciência moderna, isto é, transformadora. Entretanto, tal revisão das políticas de cotas representa um forte retrocesso e conservadorismo das infraestruturas e superestruturas nacionais. Ou seja, representam não uma transformação do meio buscando a soberania do homem, mas, sim a conservação das relações de poder colônias para que a hegemonia se concentre nesse seleto grupo.
Portanto, tal política dá continuidade ao segregacionismo de corpos não brancos do colonialismo. Isto é, segue um conjunto de valores pautados no supremacismo de raças, muito associado a desigualdades econômicas e extremamente associado a uma falsa ideia de meritocracia, a fim de não proporcionar meios que facilitem a entrada desses grupos em campos que proporcionem a eles melhores condições de vida. Ademais, segue um viés contrário ao que foi defendido por Descartes e Bacon ao enunciarem a função de uma ciência moderna, ou seja, que visa a transformação do meio, da sociedade e da natureza para que, assim, atinja o progresso como um todo.
Vítor Salvador Garcia Lopes – 1° Ano – Diurno
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