Desde 2012 vigora no país a “Lei de Cotas”, que garante metade das vagas do ensino
superior federal a estudantes oriundos do sistema público de educação, bem como a pretos, pardos
e indígenas, proporcionalmente segundo o censo demográfico de cada estado. É uma medida que
procura atenuar a elitização da universidade e as desigualdades nacionais e em breve fará dez anos
de aprovação, uma boa oportunidade para analisar seus resultados práticos e esquematizá-los,
demonstrando sua influência ao longo da última década.
Infelizmente, a estrutura social do Brasil é um tanto travada em certos aspectos, e a
política das cotas bem pode aliviar situações pessoais e conceder oportunidades que, de outra
maneira, não existiriam. Inúmeras experiências foram transformadas assim. Na realidade, a primazia
da experiência é tema recorrente da filosofia de Francis Bacon, por exemplo, que condicionava
totalmente a utilidade do conhecimento à melhora que causasse na vida humana. É verdade que
não se pode supor sem método que qualquer benefício imediato seja realmente um benefício, mas
também não se nega o efeito positivo dessa medida em circunstâncias mais carentes.
Um outro filósofo moderno, René Descartes, proporia de modo semelhante a
esterilidade do conhecimento que não transforma a realidade das pessoas. Neste caso das cotas,
pode-se tanto dizer que esse aprendizado é levado a quem de outro modo não o possuiria (por
motivos socioeconômicos, sobretudo, mais ou menos influenciados pela etnia), quanto que contribui
para a experiência social como um todo, equilibrando a presença da elite na universidade e
favorecendo um modelo menos desigual de sociedade. Ambas as observações seriam positivas sob a
ótica cartesiana.
Por fim, à luz de ambas essas filosofias modernas, a medida das cotas no Brasil pode ser
benéfica por dar novas chances a realidades cansadas, desesperadas; mas também por estabilizar a
sociedade e favorecer uma maior homogeneidade em seu meio. De toda maneira, a realização dos
dez anos da lei não deixa de ser um ótimo momento para fazer um balanço. Segundo os mesmos
pensamentos de Bacon e Descartes, uma análise sólida e metódica dos seus efeitos não pode deixar
de contribuir positivamente para esse debate, de modo que, sem amarras ideológicas, seja realizado
o melhor para o povo brasileiro.
Rafael Machado Pereira Rosa de Lima, RA 211222178, Curso de Direito, noturno.
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