René Descartes e Francis Bacon foram filósofos
essenciais na construção de um alicerce para a ciência moderna. Na visão cartesiana
e baconiana, a ciência tem o papel de ser um elemento voltado para o
bem do homem, a partir de então a centralidade passa a ser na figura humana. Entretanto,
na contemporaneidade, é possível notar que o conceito de “bem do homem” mostra-se
questionado quando a cor da pessoa é diferente daqueles que gerem a supremacia
detentora de poder.
Em
primeiro plano, vale ressaltar que a história brasileira foi de exorbitante abuso,
tráfico e genocídio. Além da quase extinção dos povos nativos que habitavam as
terras tupiniquins antes da chegada dos europeus, também houve durante séculos a
escravidão de negros africanos trazidos forçosamente a essas terras. Atrelado a
esse histórico, desde a abolição tardia da escravatura sequelas intensas acompanham
aqueles que nunca tiveram todo o apoio necessário. Para a ciência moderna foi fundamental superar uma forma de conhecimento que não se importava com uma transformação, apenas
com a contemplação, advindo desse pressuposto os modernos buscam a transformação
na condição humana.
Como exemplo dessas transformações – em
um âmbito positivo – é possível incluir as políticas públicas que buscam formas
de amenizar as desigualdades construídas historicamente. A população negra no Brasil,
considerando pretos e pardos, são a maioria em números populosos, mas a minoria
em universidades, instituições, cargos de alta contemplação. Voltado a esse panorama,
inegavelmente é necessário inúmeras ações socias para que a realidade deixe de
ser assustadora. A politica de cotas foi adotada tardiamente no Brasil, no ano
de 2012, mas uma maneira justa para frear de algum modo – mesmo sem ser
completamente – o acesso desigual ao ensino superior por pessoas de diferentes raças.
Contudo, está previsto para o ano de
2022 uma revisão da Lei de Cotas. É uma manobra perigosa realizar movimentos em
uma determinada política pública, que por sua vez busca resolver um problema.
Para a resolução de um entrave de tamanha complexidade não se pode ser estabelecidos
prazos, porque além de ignorar a importância de uma política pública, deixa também
de compreender a magnitude do racismo.
Ademais,
no filme “Ponto de Mutação” a personagem Sonia aborda questões referentes a
resoluções de empecilhos da sociedade, em uma de suas falas ela vai na contramão
do filósofo Descartes – que acredita que as coisas devem ser fragmentadas para
a sua análise – e diz: “Claro que se pode consertar uma peça,
mas ela vai quebrar de novo em um segundo porque ignorou o que se conecta a
ela”. Paralelamente, pode-se relacionar esse pensamento com o assunto da Lei de
Cotas, já que o país é estruturado em um racismo sistêmico que fundou,
estruturou e replica o preconceito, a discriminação e o racismo em todas as
instituições.
TEMA – A cor da razão: a política
de cotas no Brasil entre experiências sociais e racionalidades em disputa.
Maria
Fernanda Barra Firmino – 1° Ano Matutino
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