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segunda-feira, 28 de junho de 2021

Lei de Cotas e o panorama de Descartes e Bacon

         René Descartes e Francis Bacon foram filósofos essenciais na construção de um alicerce para a ciência moderna. Na visão cartesiana e baconiana, a ciência tem o papel de ser um elemento voltado para o bem do homem, a partir de então a centralidade passa a ser na figura humana. Entretanto, na contemporaneidade, é possível notar que o conceito de “bem do homem” mostra-se questionado quando a cor da pessoa é diferente daqueles que gerem a supremacia detentora de poder.

          Em primeiro plano, vale ressaltar que a história brasileira foi de exorbitante abuso, tráfico e genocídio. Além da quase extinção dos povos nativos que habitavam as terras tupiniquins antes da chegada dos europeus, também houve durante séculos a escravidão de negros africanos trazidos forçosamente a essas terras. Atrelado a esse histórico, desde a abolição tardia da escravatura sequelas intensas acompanham aqueles que nunca tiveram todo o apoio necessário. Para a ciência moderna foi fundamental superar uma forma de conhecimento que não se importava com uma transformação, apenas com a contemplação, advindo desse pressuposto os modernos buscam a transformação na condição humana.

         Como exemplo dessas transformações – em um âmbito positivo – é possível incluir as políticas públicas que buscam formas de amenizar as desigualdades construídas historicamente. A população negra no Brasil, considerando pretos e pardos, são a maioria em números populosos, mas a minoria em universidades, instituições, cargos de alta contemplação. Voltado a esse panorama, inegavelmente é necessário inúmeras ações socias para que a realidade deixe de ser assustadora. A politica de cotas foi adotada tardiamente no Brasil, no ano de 2012, mas uma maneira justa para frear de algum modo – mesmo sem ser completamente – o acesso desigual ao ensino superior por pessoas de diferentes raças.

         Contudo, está previsto para o ano de 2022 uma revisão da Lei de Cotas. É uma manobra perigosa realizar movimentos em uma determinada política pública, que por sua vez busca resolver um problema. Para a resolução de um entrave de tamanha complexidade não se pode ser estabelecidos prazos, porque além de ignorar a importância de uma política pública, deixa também de compreender a magnitude do racismo.

         Ademais, no filme “Ponto de Mutação” a personagem Sonia aborda questões referentes a resoluções de empecilhos da sociedade, em uma de suas falas ela vai na contramão do filósofo Descartes – que acredita que as coisas devem ser fragmentadas para a sua análise – e diz: “Claro que se pode consertar uma peça, mas ela vai quebrar de novo em um segundo porque ignorou o que se conecta a ela”. Paralelamente, pode-se relacionar esse pensamento com o assunto da Lei de Cotas, já que o país é estruturado em um racismo sistêmico que fundou, estruturou e replica o preconceito, a discriminação e o racismo em todas as instituições. 

         Portanto, é necessário que o todo seja analisado e consertado. A conquista da política de cotas fica frágil quando o órgão interligado a ela se encontra corrompido, sendo um mecanismo legal que por sua vez também replica o racismo. A razão passa a ter a cor do detentor do poder  e o direito de um povo que teve seu sangue e suor derramados para a construção da nação não pode ao menos usufruir de uma experiencia social sem a discriminação, no qual ele possa adquirir conhecimento e não ficar limitado a uma realidade de supressão.

TEMA – A cor da razão: a política de cotas no Brasil entre experiências sociais e racionalidades em disputa.

Maria Fernanda Barra Firmino – 1° Ano Matutino


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