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segunda-feira, 28 de junho de 2021

Descartes e Bacon perante a Lei de Cotas no Brasil

 

A história do Brasil, desde o período colonial, apresenta em seu enredo menor intervalo de tempo de liberdade de negros e pardos em comparação com o tempo em que esse mesmo grupo ficou submetido a um regime opressor, mercantilista e escravocrata. Esse fato fica explícito ao analisar-se a muito recente abolição da escravidão no país, a qual ocorreu em 1888 sem indenizações ou quaisquer mecanismos de respaldo aos grupos que foram oprimidos durante séculos. Como se não bastasse tamanha injustiça, ao analisarmos a realidade educacional Brasileira, no que se refere às universidades, o cenário elitista que se apresentava sendo representado por um grupo favorecido economicamente, e cuja composição fazia-se quase que exclusivamente de indivíduos brancos, deixava explícita o quão profunda é a dívida da sociedade para com as minorias que foram – e infelizmente ainda são - excluídas e oprimidas por séculos. Segundo o pensamento do filósofo e ativista negro Cornel West, a ideia de que o negro é um ser humano é recente no Ocidente, sendo esse um fato revoltante e que nos instiga a buscar com urgência a igualdade social.

É quase que indubitável a necessidade da lei de cotas, a qual será revisada em 2022. A existência dessa lei parte como um princípio de revolução no intuito de superar as lacunas e defeitos deixados por um passado medonho de opressão. No entanto, ainda que o vigor dessa lei seja fundamental, torna-se conveniente alisá-lo à luz das ideias dos filósofos modernos Rene Descartes e Francis Bacon.

Em primeiro lugar, ao submetermos as pautas da Lei de Cotas à dúvida metódica proposta por Descartes na obra Discurso do Método, fica muito clara a fundamental necessidade do vigor dessa Lei. Isso porque, ao questionarmos metodicamente o porquê de o país sucumbir em uma desigualdade que abrange os mais variados âmbitos – como educacional, econômico, social e político – ao final desse processo, explicitar-se-ia que vivenciamos a consequência de séculos de descaso em relação às minorias étnicas. Nesse sentido, por meio de um questionamento metódico sobre a situação social brasileira, a lei de cotas seria possivelmente uma das respostas mais plausíveis para superar-se gradativamente a dívida da sociedade para com as minorias oprimidas, visto que enquanto houver desigualdade não haverá democracia.

Em segundo lugar, ao trazermos à tona os pensamentos elaborados por Francis Bacon na obra “NOVO ORGANUM”, somos convidados a pensar o reino do homem. Assim, sendo os humanos intérpretes da natureza, aqueles que fazem e entendem tanto quanto constatam, empiricamente, por meio do trabalho da mente, pela observação dos fatos, pelo uso dos sentidos, sobre a ordem da natureza e sobre a nossa realidade, é fato que, ao interpretar-se a realidade brasileira por meio do uso do método de Bacon, constatar-se-ia que o atual cenário resulta de um crime contra a humanidade, contra essas minorias oprimidas. Torna-se novamente evidente, portanto, que a Lei de Cotas deve permear, desde sua instituição e pelo tempo que for necessário, a vida social brasileira para lograr completa equidade de oportunidades.

Em suma, se realmente faz-se necessária a revisão dessa lei que tanto ajuda aqueles que mais necessitam de respaldo perante o crime histórico do regime escravocrata que se estendeu até 1888, pois então que essa revisão aconteça no intuito de melhorar qualitativamente e quantitativamente a potência de transformação social proporcionada pelo vigor da lei de cotas. Assim, espera-se que, por meio dos instrumentos legais e do ativismo social, o Brasil possa se tornar um país com mais igualdade e, como resultado disso, torne-se, de fato, um país democrático que ampara seu povo.

LUCAS GABRIEL DINIZ DE P. BARCELOS - DIREITO;NOTURNO; 1°PERÍODO; turma XXXVIII

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