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quarta-feira, 27 de março de 2019

Racismo, crítica social e as similaridades entre as limitações dos sentidos e das vivências

Semelhante à maneira como René Descartes e Francis Bacon consideraram os sentidos, ainda que por razões distintas e se utilizando de argumentos controversos, como insuficientes para alcançar a verdade pura, a vivência dos não negros, sozinha, é insuficiente para compreender o racismo com minuciosidade e exatidão.

Bacon, no célebre Novum Organum (1620), coloca os sentidos por si só — ou melhor dizendo, os sentidos desassociados da experimentação científica — como dubitáveis, enquanto Descartes, em seu consagrado Discurso sobre o Método (1637), descreve os sentidos como enganosos e os critica por nos induzir ao erro no decorrer da busca pela verdade pura. Neste seguimento, a vivência de Armandinho, enquanto uma criança branca, é, similarmente, ineficiente para que ele compreenda a discriminação racial que Camilo, seu amigo e uma criança negra, sofre nas tiras cômicas a seguir, de autoria do cartunista Alexandre Beck. Isto é, do mesmo modo que os sentidos são questionáveis para a constatação da verdade, a vivência é, do mesmo modo, dubitável no momento de interpretar a realidade porque, individualmente, cada ser humano vive numa [realidade] e se baseia essencialmente nela para conceber seus parâmetros acerca do real.

Tira 1



Tira 2


Ademais, Bacon, também no Novum Organum, tipifica os “ídolos”, as falsas noções que bloqueiam a mente, em quatro gêneros: ídolos da tribo, que equivalem às falsas noções advindas do nosso próprio pensamento; ídolos da caverna, que correspondem às falsas noções procedentes da natureza singular do ser humano; ídolos do foro, que são as falsas noções derivadas da linguagem e da comunicação e ídolos do teatro, que constituem nas falsas noções provenientes dos conceitos filosóficos, científicos e culturais em vigência na época. A teoria dos ídolos de Bacon tinha como propósito libertar o ser humano dos preconceitos, das crendices e dos asceticismos que impossibilitaram o alcance da verdade pura e, neste contexto, cabe uma crítica à sociedade contemporânea que, contrariamente a Bacon, persiste em se manter preconceituosa.

Isto posto, é dedutível que, independentemente de pertencentes ao período moderno e de divergirem entre si, ambos os autores demonstram-se valorosos na análise de questões e discussões na pós-modernidade e é dedutível, também, a indispensabilidade de que os outros grupos étnicos-raciais escutem os negros a fim de entender, por meio da fala, o racismo que não vivenciam na pele.

Thayná R. de Miranda - Matutino

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