Nos meados do século XVII, o preeminente debate quanto as questões que tratavam sobre as abstrações do próprio conhecimento humano se encontravam em um estado de dualidade: Em um lado, a concepção racionalista promovida por pensadores como René Descartes, onde se defendia que o conhecimento absoluto poderia ter origens além de conceitos oriundos dos sentidos humanos. Em oposição a este lado, vigorava a compreensão empiricista advogada por filósofos tais como Francis Bacon e John Locke, onde se entendia que toda a concepção de mundo de um indivíduo partiria de suas experiências concretas com a realidade, sendo o conhecimento a priori uma contradição em si mesmo.
Partindo de um ponto de vista de uma sociedade diversa, vemos que o conhecimento empírico de praticamente cada pessoa tende a ser único, haja vista que a multiplicidade de nichos sociais garante que haja pouquíssimos indivíduos com a exata mesma vivência e concepção de mundo. Essa tese é exemplificada nos quadrinhos do personagem Armandinho, de Alexandre Beck. O amigo de Armandinho, Camilo, apresenta reações que causam estranheza em Armandinho, assim evidenciando diferentes realidades e concepções empíricas sobre os elementos da sociedade por parte das personagens -- Camilo, um jovem negro, se sente inseguro ao ter de contar com proteção por parte da polícia, enquanto Armandinho, de outra cor, se encontra confuso devido a atitude do amigo, revelando assim um passado de experiências diferentes à de Camilo, sendo essa discrepância de experiências e concepções fruto da triste realidade desigual brasileira, onde a significante população negra é sujeita à opressão e descaso por parte das forças policiais apenas pelo nicho social em que se vêem incluídas.
Embora a tirinha seja apresentada de maneira simples e acessível, o contexto não deixa de pautar a controversa e lamentável realidade sobre o viés racial consciente e inconsciente presente em casos de discriminação racial direcionado a população negra por parte das forças policiais ao claramente exibir o contraste da preocupação de Camilo com a confusão de Armandinho, que, de maneira surpreendente, pode induzir até mesmo o próprio leitor a se identificar com cada uma das duas diferentes realidades apresentadas por cada personagem.
Rodrigo Riboldi Silva
1º Ano Direito (Noturno)
Nenhum comentário:
Postar um comentário