Etnocídio Negro no dia a dia
A carne mais barata do mercado é a carne
negra
Que vai de graça pro presídio
E para debaixo do plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos
Elza
Soares, A carne.
O Etnocídio é a destruição cultural de um
povo. Colocando, principalmente, em questão os negros neste artigo, vale
ressaltar que a partir da Lei Aurea, a qual determinava a liberdade dos campos
de café, os negros ficaram expostos a uma nova escravidão, a social, pois entraram
em um sistema marcado pela exclusão social, desapropriação de suas culturas,
genocídio e o próprio Etnocídio.
Primeiramente, pelo viés sociológico de
Bacon, a sociedade está pautada nos “Ídolos da caverna”, ou seja, a sociedade
dissemina entre ela uma imagem negativa dos negros, como pobres, ladrões, sem
cultura, portanto se isolam nessa “caverna” baseada no racismo. Sendo assim,
como diz a música de Elza Soares, “a carne mais barata do mercado é a carne
negra”, pois tudo em que envolve participações ou ações negras são
desvalorizadas devido a esse estigma da sociedade (Ídolo da caverna), por isso
é visto diversas perseguições às “rodas sagradas” negras: o candomblé, a
capoeira, o samba.
Concomitantemente, através desse estigma
mostrado e assimilado, que entra em pauta os “Ídolos da Tribo”, que são noções
tendenciosas fundadas pelas pessoas a partir das coisas que elas mesmas
observam em seus cotidianos. Colocando na prática: devido à desigualdade, à
exclusão social e ao próprio racismo, que são paradigmas que guiam a vida dos
negros, 2/3 da população carcerária é negra, assim a população julga que todos
os negros cometem delitos e não se atentam aos históricos e os abusos policiais
que são direcionados a essa grande parte da sociedade. Portanto, a tirinha do
Armandinho, em que seu colega negro não corre devido à presença de policial, o
qual pode julgar o “Camilo” (seu colega) como um menor infrator, mostra como
está em analogia o negro como um membro do crime, assim um exemplo de “Ídolos
da Tribo”.
Além do mais, coloco em ênfase a frase de
Descartes como um dos quesitos que direcionam a desvalorização do negro e
consequentemente do Etnocídio: “Na corrupção de nossos costumes, existem poucas
pessoas que queiram dizer tudo que pensam, mas também porque muitos o
ignoram”. Sendo assim, como diz a música “A carne” os negros são aqueles
que ocupam o subemprego, pois sua mão de obra é ignorada e desvalorizada pela
sociedade, pois são vistos como apenas operários. Outro exemplo é a questão de
aquisição material, a sociedade racista impõe o estereótipo de que negro é
pobre, e se este tem algum bem material é fruto de furtos, portanto ignora a
percepção de a mão de obra negra, atualmente, ser assalariada, tão quanto a dos
brancos. É por esse viés que a outra tirinha de Armandinho, em que seu amigo
negro, o qual diariamente fica exposto a situações constrangedoras devido a sua
etnia, tinha uma nota fiscal de sua respectiva bicicleta para comprovar que era
dele, um negro, algo que Armandinho, branco, nunca supôs que precisaria ter.
Em suma, as culturas, as conquistas, as vidas
e as pessoas negras ficam sujeitas a essas situações devido à consolidação
histórica do negro na sociedade,
através dos Ídolos e da própria corrupção dos costumes, por isso que a música
relatada no início descreve sucintamente como o negro (“a carne negra”) é visto
nos contextos sociais, como "algo" (e não indivíduo) degradado: “a carne mais barata no mercado”.
Yasmin Marcheto Simões ( 1° ano
Direito Diurno)
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