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quarta-feira, 27 de março de 2019


Etnocídio Negro no dia a dia
A carne mais barata do mercado é a carne negra
Que vai de graça pro presídio
E para debaixo do plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos
                                                                                  Elza Soares, A carne.
O Etnocídio é a destruição cultural de um povo. Colocando, principalmente, em questão os negros neste artigo, vale ressaltar que a partir da Lei Aurea, a qual determinava a liberdade dos campos de café, os negros ficaram expostos a uma nova escravidão, a social, pois entraram em um sistema marcado pela exclusão social, desapropriação de suas culturas, genocídio e o próprio Etnocídio.
Primeiramente, pelo viés sociológico de Bacon, a sociedade está pautada nos “Ídolos da caverna”, ou seja, a sociedade dissemina entre ela uma imagem negativa dos negros, como pobres, ladrões, sem cultura, portanto se isolam nessa “caverna” baseada no racismo. Sendo assim, como diz a música de Elza Soares, “a carne mais barata do mercado é a carne negra”, pois tudo em que envolve participações ou ações negras são desvalorizadas devido a esse estigma da sociedade (Ídolo da caverna), por isso é visto diversas perseguições às “rodas sagradas” negras: o candomblé, a capoeira, o samba.
Concomitantemente, através desse estigma mostrado e assimilado, que entra em pauta os “Ídolos da Tribo”, que são noções tendenciosas fundadas pelas pessoas a partir das coisas que elas mesmas observam em seus cotidianos. Colocando na prática: devido à desigualdade, à exclusão social e ao próprio racismo, que são paradigmas que guiam a vida dos negros, 2/3 da população carcerária é negra, assim a população julga que todos os negros cometem delitos e não se atentam aos históricos e os abusos policiais que são direcionados a essa grande parte da sociedade. Portanto, a tirinha do Armandinho, em que seu colega negro não corre devido à presença de policial, o qual pode julgar o “Camilo” (seu colega) como um menor infrator, mostra como está em analogia o negro como um membro do crime, assim um exemplo de “Ídolos da Tribo”.

Além do mais, coloco em ênfase a frase de Descartes como um dos quesitos que direcionam a desvalorização do negro e consequentemente do Etnocídio: “Na corrupção de nossos costumes, existem poucas pessoas que queiram dizer tudo que pensam, mas também porque muitos o ignoram”. Sendo assim, como diz a música “A carne” os negros são aqueles que ocupam o subemprego, pois sua mão de obra é ignorada e desvalorizada pela sociedade, pois são vistos como apenas operários. Outro exemplo é a questão de aquisição material, a sociedade racista impõe o estereótipo de que negro é pobre, e se este tem algum bem material é fruto de furtos, portanto ignora a percepção de a mão de obra negra, atualmente, ser assalariada, tão quanto a dos brancos. É por esse viés que a outra tirinha de Armandinho, em que seu amigo negro, o qual diariamente fica exposto a situações constrangedoras devido a sua etnia, tinha uma nota fiscal de sua respectiva bicicleta para comprovar que era dele, um negro, algo que Armandinho, branco, nunca supôs que precisaria ter.

Em suma, as culturas, as conquistas, as vidas e as pessoas negras ficam sujeitas a essas situações devido à consolidação histórica do negro na sociedade, através dos Ídolos e da própria corrupção dos costumes, por isso que a música relatada no início descreve sucintamente como o negro (“a carne negra”) é visto nos contextos sociais, como "algo" (e não indivíduo) degradado: “a carne mais barata no mercado”.
                                       Yasmin Marcheto Simões ( 1° ano Direito Diurno)

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