Experiência e razão divergentes e refletidas em uma sociedade racista.
Para Descartes, o bom senso ou razão é igual a todos os homens. Sendo assim, todos são dotados de razão na mesma medida e a diversidade de opiniões resultaria de pensamentos que não consideram os mesmos fatores, os quais divergem entre os diferentes á medida em que esses possuem vivências distintas e que resultam em pensamentos únicos.
Essa divergência se torna clara nas tirinhas de Alexandre Beck, nas quais o contraponto entre as vivências se faz explicito, ao passo em que atitudes como andar com a nota fiscal de algo que é seu ou mesmo de privar-se de brincar são tratadas como comuns pelo menino negro, Camilo, em vista de suas reações nas tirinhas, que se opõem ao fato de que tais atitudes, ao menino branco, de Dinho, são impensáveis.
As reações contrarias nas tirinhas trazem a reflexão sobre quão grande é o abismo entre as realidades sociais brasileiras. A forma como o negro, em toda a sua vida, é socialmente estereotipado e sofre de preconceitos escancarados até hoje, explicam o porquê de as suas atitudes racionais divergirem tanto em situações como as das tirinhas, em que mostra submissão e retraimento em vez de não indignação, como o menino branco, que por não ter vivenciado tal opressão em toda a sua vida é incapaz de entender a atitude do colega ou mesmo o que ocorre racionalmente.
Desse modo, se for feita uma analise histórica da questão racial no Brasil, torna-se claro que o racismo trata-se de um problema antigo, até mesmo estrutural, que é embasado em falsas crenças de inferioridade de um grupo sobre outro, utilizadas desde a época da escravidão como argumento que tentasse justificar os atos e abusos desse período.
Atualmente, mesmo com as garantias de igualdade, ainda é comum encontrar inúmeros casos de racismo, muitas vezes velado, vindo até mesmo das autoridades (as quais deveriam garantir o cumprimento da lei), o que leva o negro a levar consigo cargas de vivência que afetam sua percepção do que é racional ao tentar se adaptar a realidade em que esta inserido e após vivenciar frequentemente grandes obstáculos em sua vida, apenas por sua cor.
Pode-se, portanto concluir que o racismo, ainda muito presente no Brasil, leva aqueles sofrem com ele a carregar uma carga de experiências, abusos, discriminação e opressão muito fortes, que afetam a sua forma de viver a realidade, que só pode ser entendida racionalmente por quem já viveu o mesmo. Assim, a indignação de Dinho, que não deixou de ser racional á sua percepção e vivência, é explicada, assim como a atitude de Camilo, que apesar de racional e resultado de suas experiências, não deveria ser considerada comum, já que o que o leva a agir assim ocorre embasado em falsos pretextos, que são racistas e subjugam.
Monica C. dos Anjos Bueno.1º ano direito noturno.
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