A busca por um método de
aquisição de conhecimento que trouxesse à luz o mais próximo de uma verdade
absoluta gerou controvérsias e discussões que remontam aos filósofos da Grécia
antiga. Contudo, o estudioso inglês Francis Bacon, em sua obra “Novo Organum”,
teoriza sobre o uso predominante da experiência empírica de cada indivíduo para
a concepção de conhecimento, o que nos leva a conclusão de que, de acordo com
sua analíse, não existiria uma verdade absoluta e universal, sendo ela variável
de acordo com a vivência de cada indivíduo.
Na contemporaneidade brasileira,
existe um grande abismo entre as realidades nas quais as parcelas da sociedade
estão inseridas, tendo assim ricos e pobres, negros e brancos vivendo em
universos completamente paradoxos. Hoje, um jovem negro da periferia tem que
viver com o estigma da sociedade de “marginal”, por possuir, de acordo com a
lógica racista perpetuada oriunda de um passado escravocrata, o estereótipo de
criminoso. Consequentemente, este se torna suspeito perpétuo sob o olhar não
apenas da comunidade, como também das autoridades policiais.
Porém, qualquer cidadão branco é
isento da desconfiança geral, uma vez que pertence a etnia mais elitizada da
sociedade, da qual pertencem os chamados “cidadãos de bem”, que mesmo após
confirmados seus atos ilícitos, lhes é dado o benefício da dúvida e da
clemência. Desta forma, pode-se diagnosticar uma sociedade doente e de
princípios de julgamento errôneos, baseados não na conduta, mas na cor da pele
de seus componentes.
Com isso, ao analisarmos a
presente situação sob o olhar baconiano, percebe-se uma dualidade de “verdades”
existentes nessas realidades. Para o jovem negro, acostumado à opressão
policial, com suas revistas e inspeções fundamentadas apenas pelo fato dele ser
negro, é completamente natural e lógico temer a polícia e autoridades
semelhantes. Como também, lhe é meramente cotidiano levar consigo, por exemplo,
a nota fiscal de seus pertences, pois, de acordo com sua experiência, o fato de
tê-los adquirido de forma lícita sempre será posta à prova de forma autoritária
e violenta. Contudo, para a população branca em geral tal conduta é
inimaginável, uma vez que não possuem a mesma vivência deste último, mas sim
outra deveras distinta, na qual a figura policial representa segurança e
amparo, e por isso estabelecem com esta uma relação de completa confiança.
Portanto, observa-se a aplicação
prática da teoria de Francis Bacon, uma vez que é nitidamente perceptível a variabilidade
de conhecimento concebido por cada indivíduo e que levando em conta fatos sob
perspectivas diferentes, com o uso da razão, tal qual defendia René Descartes em
sua obra “O discurso do método”, formulam suas condutas de acordo com o
universo social no qual estão inseridos.
Júlia Veríssimo Barbosa (Direito - Noturno)
Nenhum comentário:
Postar um comentário