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quarta-feira, 27 de março de 2019

A lógica baconiana em mundos paradoxos


A busca por um método de aquisição de conhecimento que trouxesse à luz o mais próximo de uma verdade absoluta gerou controvérsias e discussões que remontam aos filósofos da Grécia antiga. Contudo, o estudioso inglês Francis Bacon, em sua obra “Novo Organum”, teoriza sobre o uso predominante da experiência empírica de cada indivíduo para a concepção de conhecimento, o que nos leva a conclusão de que, de acordo com sua analíse, não existiria uma verdade absoluta e universal, sendo ela variável de acordo com a vivência de cada indivíduo.

Na contemporaneidade brasileira, existe um grande abismo entre as realidades nas quais as parcelas da sociedade estão inseridas, tendo assim ricos e pobres, negros e brancos vivendo em universos completamente paradoxos. Hoje, um jovem negro da periferia tem que viver com o estigma da sociedade de “marginal”, por possuir, de acordo com a lógica racista perpetuada oriunda de um passado escravocrata, o estereótipo de criminoso. Consequentemente, este se torna suspeito perpétuo sob o olhar não apenas da comunidade, como também das autoridades policiais.

Porém, qualquer cidadão branco é isento da desconfiança geral, uma vez que pertence a etnia mais elitizada da sociedade, da qual pertencem os chamados “cidadãos de bem”, que mesmo após confirmados seus atos ilícitos, lhes é dado o benefício da dúvida e da clemência. Desta forma, pode-se diagnosticar uma sociedade doente e de princípios de julgamento errôneos, baseados não na conduta, mas na cor da pele de seus componentes.

Com isso, ao analisarmos a presente situação sob o olhar baconiano, percebe-se uma dualidade de “verdades” existentes nessas realidades. Para o jovem negro, acostumado à opressão policial, com suas revistas e inspeções fundamentadas apenas pelo fato dele ser negro, é completamente natural e lógico temer a polícia e autoridades semelhantes. Como também, lhe é meramente cotidiano levar consigo, por exemplo, a nota fiscal de seus pertences, pois, de acordo com sua experiência, o fato de tê-los adquirido de forma lícita sempre será posta à prova de forma autoritária e violenta. Contudo, para a população branca em geral tal conduta é inimaginável, uma vez que não possuem a mesma vivência deste último, mas sim outra deveras distinta, na qual a figura policial representa segurança e amparo, e por isso estabelecem com esta uma relação de completa confiança.

Portanto, observa-se a aplicação prática da teoria de Francis Bacon, uma vez que é nitidamente perceptível a variabilidade de conhecimento concebido por cada indivíduo e que levando em conta fatos sob perspectivas diferentes, com o uso da razão, tal qual defendia René Descartes em sua obra “O discurso do método”, formulam suas condutas de acordo com o universo social no qual estão inseridos.


Júlia Veríssimo Barbosa (Direito - Noturno)

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