Nada é verdadeiro até ser reconhecido como tal. Esse
pensamento de René Descartes, importante filósofo renascentista, apresenta a
ideia de que algo só adquire a posição de verdade absoluta a partir do momento em
que as pessoas o aceitam como tal. Partindo desse pressuposto, torna-se
evidente que a discriminação racial tem suas raízes no senso comum, uma vez que
há uma disseminação da concepção de que pessoas negras são mais perigosas,
menos sociáveis e tendem a praticar crimes. Essa propagação pode ser vista
claramente em diversos meios de difusão de ideias, como por exemplo filmes famosos
nos quais os bons são pessoas brancas e os criminosos são pessoas negras.
Assim, é fato que a população afrodescendente convive diariamente sofrendo com
a opressão e com a repressão e muitas vezes é colocada à margem da sociedade.
Alexandre Beck, um grande cartunista contemporâneo, em duas
de suas tirinhas do personagem Armandinho representa de maneira clara duas diferentes
visões sobre situações rotineiras, uma do garoto branco Armandinho e outra de
seu amigo negro, Camilo. Na primeira os dois meninos estão andando de bicicleta
quando são parados por um policial que exige a nota fiscal da bicicleta para
confirmar que não são roubadas. Diante disso, Armandinho demonstra grande estranheza em relação
ao pedido, mas Camilo mostra à autoridade a nota que carregava consigo,
o que evidencia que o menino já estava acostumado com esse tipo de situação
preconceituosa devido à cor de sua pele. Em uma segunda tirinha, Armandinho
convida seu amigo Camilo para apostar uma corrida, mas esse último diz que não
pode, uma vez que há um policial por perto e ele tem medo de sofrer opressão em
função de sua cor. Com isso, nas duas tirinhas o espanto de Armandinho a respeito das
atitudes de Camilo demonstra como é difícil compreender algo sem vivenciá-lo,
fato que se liga ao método indutivo de Francis Bacon no qual não se pode ter
conhecimento destituído de experiência.
Todo o contexto das tirinhas também se relaciona com a teoria
dos ídolos de Bacon. na qual o filósofo descreve o senso comum como uma das
falsas noções que precisam ser combatidas para se chegar ao conhecimento de
fato. Assim, seria necessário eliminar os preconceitos e o pensamento alienado
antes de se considerar algo como verdade absoluta. Esse seria um modo de modificar
uma longa cultura preconceituosa em busca de uma sociedade menos racista em que
a população negra não sofresse diariamente com olhares pejorativos e não fosse
constantemente subjugada, uma sociedade na qual o tom de pele não fosse mais
importante do que o próprio ser humano.
Juliana Silva Pastore - 1º ano Direito (matutino)
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