Teoria versus realidade. É nesse jogo de opostos que se pode observar, com muita clareza, o que de fato ocorre na realidade social, em todas suas nuances, relacionando com os maiores filósofos do pensamento moderno: René Descartes e Francis Bacon.
O filósofo francês René Descartes propunha um método capaz de compreender todas as coisas sempre segundo um mesmo critério, racional e rigoroso. Afinal, para ele, a razão seria capaz de resolver qualquer dificuldade e dúvida, e é justamente ela a faculdade mais igualmente partilhada entre os homens. Ademais, para Descartes, exatamente pelo fato de o homem ser capaz de questionar tudo é o que possibilita o surgimento de uma ampla diversidade de pontos de vista, que pode -ou não- abrir e libertar a mente de qualquer forma de preconceito.
Contudo, ao se analisar minuciosamente a realidade social é possível perceber que o preconceito, principalmente para com a população negra, ainda se faz presente -mesmo que de maneira sutil- em diversas situações do cotidiano. O ilustrador brasileiro Alexandre Beck retrata em suas tirinhas a verdadeira ''experiência'' de ser negro no Brasil, quando seu personagem Camilo, uma criança, possui medos e preocupações que nenhuma pessoa deveria ter, apenas devido à cor de sua pele. Essa realidade incomoda e entristece, mas precisa ser exposta, contestada e combatida.
Por outro viés, tem-se o filósofo inglês Francis Bacon, que acreditava que a experiência e o método indutivo eram os melhores critérios para se formular qualquer conhecimento. Para ele, o indivíduo deveria se libertar das tradições e costumes enraizados na sociedade e de quaisquer falsas noções que formassem opiniões cristalizadas e preconceitos. Na percepção de Bacon, todo conhecimento tem por finalidade ser posto em prática em prol do benefício humano, e dessa forma, com o progresso do conhecimento há, concomitantemente, o progresso do homem.
Posto isso, é notório que as assertivas de ambos os filósofos podem, sem dúvida, serem contestadas diante da realidade social. Isso porque, como já dito anteriormente, o racismo permanece sim enraizado na sociedade e, infelizmente, perpetua-se a hostilidade, a discriminação, a marginalização e a violência contra os negros. Por fim, fica a reflexão: do que adianta tamanho fascínio pelo progresso e pela ciência, se a sensibilidade e a humanidade muitas vezes são postas em segundo plano? Vidas negras importam e, por isso, a desconstrução de preconceitos e paradigmas deve ser um exercício diário de todo ser humano, para que assim mais nenhum Camilo seja vítima da ignorância, apatia e opressão humana.
Raquel Colózio Zanardi (primeiro ano - Direito matutino)
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