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quarta-feira, 27 de março de 2019

Racismo: Reflexo e Reflexões


René Descartes e Francis Bacon, filósofos do século XVII, em uma perspectiva social de busca por uma ciência prática, em suas obras: “Discurso do Método” e “Novo Organum” respectivamente, apresentam métodos de obtenção do conhecimento através da razão e da experiência. As linhas de pensamento deles relacionam-se de maneira á melhorar aspectos da sociedade e sua conjuntura. Para Descartes, a ciência era capaz de transformar mundos, espaços e realidades ao seu redor, através da razão; para Bacon, essa realidade era conhecida por “vontade do mundo” e não era algo rígido, admitia mudanças, porém era além de uma simples vontade ou convicção pessoal e só seria admitido através de experiências.

A partir desses conceitos, fica possível relacioná-los as situações apresentadas nas tirinhas de “Armandinho”, do autor Alexandre Beck. Ambas as tirinhas apresentadas relatam situações cotidianas em que o racismo é facilmente identificado e em que negros tem desde a infância sua honestidade questionada, simplesmente pela cor de suas peles, e os chamados por Bacon de ídolos (falsas percepções do mundo), totalmente baseados em um senso comum com intolerâncias, carregado de preconceitos enraizados e institucionalizados, e sem o mínimo de contextualizações históricas acerca da condição humana em que pessoas de etnia negra eram submetidas.

O reflexo do medo e da insegurança causado por quem deveria promover totalmente o cenário contrário é demonstrado no momento em que o policial questiona sobre as bicicletas de Armandinho e Camilo e suas respectivas notas fiscais. Armandinho, uma criança branca não habituada à aquele tipo de situação, acha surreal ter que apresentar nota fiscal para provar algo tão trivial, enquanto Camilo, uma criança negra, com toda questão empírica enfrentada, (uma evidência do pensamento de Aristóteles em que o mesmo diz que a experiência é escrava da razão, que faz parecer comum, situações como as retratadas nas tirinhas pela recorrência de situações como esta), retira a nota com prontidão e à apresenta ao policial. Na outra situação, Camilo repensa a brincadeira, porque não acha seguro correr perto do policial, uma vez que os ídolos dele podem-no fazer crer que Camilo está fugindo, fazendo algo de errado ou até mesmo ilícito, graças à deturpação da imagem do negro no meio social pela atribuição de sua imagem a criminalidade.

Com a modernidade que se dá nos dias atuais, em uma perspectiva do nascimento da ciência moderna sob o signo de um conhecimento e conceitos que deveriam ser neutros, livres de ideologias, guiados somente pela razão e liberto de pré-noções, é incompreensível haver pessoas que ainda orientam-se por preconceitos arcaicos, infundados, baseados em Ídolos, pela perspectiva Baconiana, como os ídolos da tribo, constituídos de distorções provocadas pela mente, ou até mesmo ídolos do foro, em que influências externas ao ser, sejam por meio de relações pessoais ou sociais causam distorções que engendram falsas teorias e fazem com que prejulgamentos, intolerâncias dentre outros aspectos tão absurdos e danosos de forma inimaginável e imensurável à aqueles que os sofrem, perdurem por tanto tempo e cresçam em mentes desprovidas de uma indubitável necessidade de desconstrução e “cura da mente” (processo de mediação das convicções através da observação colocado por Bacon em sua obra), despindo-se dos ídolos e do total racionalismo de Descartes, inviável já que seu uso implicaria em uma insensibilização da visão de sociedade/mundo ainda maior. 

Letícia E. de Matos 
Direito (1º ano) - Matutino 

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