René Descartes e
Francis Bacon, filósofos do século XVII, em uma perspectiva social de busca por
uma ciência prática, em suas obras: “Discurso do Método” e “Novo Organum”
respectivamente, apresentam métodos de obtenção do conhecimento através da
razão e da experiência. As linhas de pensamento deles relacionam-se de maneira á melhorar aspectos da sociedade e sua conjuntura. Para Descartes, a ciência
era capaz de transformar mundos, espaços e realidades ao seu redor, através da
razão; para Bacon, essa realidade era conhecida por “vontade do mundo” e não
era algo rígido, admitia mudanças, porém era além de uma simples vontade ou
convicção pessoal e só seria admitido através de experiências.
A partir desses
conceitos, fica possível relacioná-los as situações apresentadas nas tirinhas
de “Armandinho”, do autor Alexandre Beck. Ambas as tirinhas apresentadas
relatam situações cotidianas em que o racismo é facilmente identificado e em
que negros tem desde a infância sua honestidade questionada, simplesmente pela
cor de suas peles, e os chamados por Bacon de ídolos (falsas percepções do
mundo), totalmente baseados em um senso comum com intolerâncias, carregado de preconceitos
enraizados e institucionalizados, e sem o mínimo de contextualizações
históricas acerca da condição humana em que pessoas de etnia negra eram
submetidas.
O reflexo do medo e da
insegurança causado por quem deveria promover totalmente o cenário contrário é
demonstrado no momento em que o policial questiona sobre as bicicletas de
Armandinho e Camilo e suas respectivas notas fiscais. Armandinho, uma criança
branca não habituada à aquele tipo de situação, acha surreal ter que apresentar
nota fiscal para provar algo tão trivial, enquanto Camilo, uma criança negra,
com toda questão empírica enfrentada, (uma evidência do pensamento de
Aristóteles em que o mesmo diz que a experiência é escrava da razão, que faz
parecer comum, situações como as retratadas nas tirinhas pela recorrência de
situações como esta), retira a nota com prontidão e à apresenta ao policial. Na
outra situação, Camilo repensa a brincadeira, porque não acha seguro correr
perto do policial, uma vez que os ídolos dele podem-no fazer crer que Camilo
está fugindo, fazendo algo de errado ou até mesmo ilícito, graças à deturpação
da imagem do negro no meio social pela atribuição de sua imagem a criminalidade.
Com a modernidade que
se dá nos dias atuais, em uma perspectiva do nascimento da ciência moderna sob
o signo de um conhecimento e conceitos que deveriam ser neutros, livres de
ideologias, guiados somente pela razão e liberto de pré-noções, é
incompreensível haver pessoas que ainda orientam-se por preconceitos arcaicos,
infundados, baseados em Ídolos, pela perspectiva Baconiana, como os ídolos da
tribo, constituídos de distorções provocadas pela mente, ou até mesmo ídolos do
foro, em que influências externas ao ser, sejam por meio de relações pessoais
ou sociais causam distorções que engendram falsas teorias e fazem com que
prejulgamentos, intolerâncias dentre outros aspectos tão absurdos e danosos de
forma inimaginável e imensurável à aqueles que os sofrem, perdurem por tanto
tempo e cresçam em mentes desprovidas de uma indubitável necessidade de
desconstrução e “cura da mente” (processo de mediação das convicções através da
observação colocado por Bacon em sua obra), despindo-se dos ídolos e do total
racionalismo de Descartes, inviável já que seu uso implicaria em uma
insensibilização da visão de sociedade/mundo ainda maior.
Letícia E. de Matos
Direito (1º ano) - Matutino
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