O filósofo e economista Karl Marx estabelece uma relação entre o
conhecimento e o posicionamento das classes sociais em que esse é
utilizado como instrumento de dominação, tendo o pensamento
parecido com o de Francis Bacon que ao escrever o “Novum Organum”
afirma, pela primeira vez na história, que saber é poder, sendo o
conhecimento empregado pela burguesia como forma de domínio, criando
uma civilização à sua imagem e semelhança.
Essa civilização se baseia em verdades tidas como absolutas que
subjugam grupos sociais, incorporadas no senso comum, o que dificulta
a prática de dúvidas e questionamentos. No Rio de Janeiro, Leonardo
Nascimento foi erroneamente preso no início de 2019, vítima de uma
atitude equivocada e racista baseada no senso comum estabelecido pela
elite, pelo assassinato de Matheus dos Santos Lesa. Tal situação
poderia ter sido evitada se os policiais exercessem o Ceticismo
Descartesiano, em que tem se como totalmente falso tudo aquilo que
haja até mesmo uma remota dúvida. Além disso, se a cura da mente
proposta por Bacon, em que se privilegia a experiência frente às
próprias concepções e antecipações da mente, fosse praticada o
aprisionamento desnecessário do Leonardo não haveria ocorrido.
Para Bacon , o conhecimento verdadeiro é alcançado justamente
através da experiência, quebra de preconceitos e emancipação dos
ídolos da mente, que prejudicam sua análise e visão sobre o mundo.
Para Descartes, o conhecimento real não se dá apenas pela formação
acadêmica e estudos de livros, mas sim pela consciência adquirida
ao analisar diferentes culturas e costumes que possam parecer
contrários à razão e “atrasados” quando vistos através de uma
lente etnocêntrica.
Apesar da busca pelo real conhecimento de Descartes e Bacon terem
sido propostas no século XVII, ainda há uma forte influência e
necessidade sobre a sociedade contemporânea, já que se em situações
como a de Leonardo Nascimento e mesmo na infância, como ilustrado
pelo cartunista Alexandre Beck em uma de suas tirinhas de
“Armandinho” que exemplifica a situação de desigualdade em que
Camilo (o amigo negro) precisa andar com uma nota fiscal para
comprovar que a bicicleta o pertence, haveria dúvida sobre a ação
a ser feita e interesse em conhecer experiências distintas de suas
próprias.
A prática de reflexões filosóficas propostas pelos dois filósofos
e da moral provisória (utilizar a ciência já produzida mesmo que
haja inovações) levaria ao objetivo dos mesmos: para Bacon, a
ciência seria útil e transformadora, alterando o cotidiano de
muitos, já para Descartes a ciência seria empregada para atingir um
bem maior comum.
Monique S. Fontes
1 ano Direito Noturno
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