As tiras abordam a constante vigilância, preocupação e cuidados que
pessoas negras precisam ter para não serem confundidas com criminosos, como por exemplo passar pelo constrangimento de apresentar uma nota fiscal para que uma autoridade reconheça sua propriedade sobre aquele patrimônio. Nota-se também que a menina negra não questiona a atitude do policial direcionada exclusivamente a ela, e também não se arrisca a correr, pois sabe que estaria submetendo-se à violência policial. Tudo isso é consequência do racismo estrutural no qual a sociedade brasileira está imersa, desde a fundação dessa nação as autoridades desrespeitam e desumanizam negros, sempre com a justificativa de que é para um bem maior (como por exemplo trabalho escravo, ou homicídio de homens com guarda-chuva que um policial confundiu com arma), e embora pareça espantoso todas essas autoridades não são punidas e nossa sociedade ao normalizar essas atitudes deixa "passar batido" e coloca pessoas brancas como ingênuas.
Porém existe mais uma perspectiva a ser abordada, a do policial.
Descartes diz em O Método que “Não é suficiente ter o espírito bom, o
principal é aplica-lo bem” antes de julgamentos do porquê tal policial viria a
menina negra como ameaça, faz-se necessária uma análise do contexto em que aquele
policial está inserido. A maioria dos que aceitam cargos nas Guardas
Municipais, Polícias ou Exército, fazem isso pois enxergam nobreza em tal
profissão, em sua maior parte têm um espírito bom, mas não o aplicam bem. Quando
pessoas brancas assumem tais cargos, certamente não passaram pela vivência que
negros ou pessoas em situação vulnerável passam e também não tiveram uma educação
que os conscientizou, não desenvolvem compaixão pela comunidade que defendem. Como
no caso da tira, certamente o policial crê que seu papel é proteger o patrimônio
das pessoas e acredita que isso o assegura de ter bom espírito (coloca-o na posição de herói), porém o patrimônio é
o mais superficial da sociedade e há muito mais a ser cuidado, ou seja maneiras
muito melhores de colocar o espírito bom em prática. Descartes reconhece a imperfeição do homem, não pode-se esperar que todos tenham consciência social (embora fosse o ideal), mas a sociedade precisa ser educada, conscientizada e a elite precisa reconhecer seus privilégios, usar sua capacidade de fazer o bem. O policial deveria zelar para que a menina ande em sua bicicleta com tranquilidade e não questionar sem nenhum embasamento a integridade da mesma.
Pode-se fazer uma ponte também entre o caráter questionador de Armandinho e a natureza também questionadora de Bacon e Descartes, porém com maior destaque a Descartes que possui um questionamento mais existencialista, enquanto Francis tem um questionamento científico mais técnico/moderno.
Lívia dos Santos P. Cavaglieri 1°Ano Direito - Matutino
Lívia dos Santos P. Cavaglieri 1°Ano Direito - Matutino
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