Muito comum,
na contemporaneidade, ainda existir opiniões contrárias aos pensadores de
séculos passados. Tidos como “ultrapassados” ou míseros “filhos de seu tempo”,
pensadores que engradeceram sua época são postos de lado, principio esse
antagônico citado por Descartes
“...a leitura de todos os bons livros é igual a uma
conversação com as pessoas mais qualificadas dos séculos passados, que foram
seus autores, e até uma conversação premeditada, na qual eles nos revelam
apenas seus melhores pensamentos.’’(Pag 3 Discurso do Método).
À luz dessa controvérsia, ressalta-se o valor
crítico de autores atuais acerca dessa dualidade , sobretudo nas obras de
Armandinho como em:
Nessa
tirinha, é subentendido uma crítica típica ao julgamento raso, uma vez que,
mesmo não tendo cometido algum delito, a personagem negra teme correr próxima
ao policial pelo fato de que sua cor de pele ,infelizmente, ainda é causa comum
para a suposição de que ela esteja fugindo de um possível crime. Assim, o autor
chama a atenção do leitor ao trabalhar
com crianças e apresenta-las em contextos cotidianos , isto é , até uma simples
brincadeira de correr traz insegurança a quem apresenta cútis negra. Outrossim
, há outra obra próxima:
Semelhantemente
a tirinha já abordada, Armandinho continua ressaltando, ironicamente o dualismo
entre o comum/cotidiano e as mazelas dos pensamentos preconceituosos. Assim
sendo, elucida como a personagem negra é resignada com a situação de sua etnia
perante as autoridades ao ponto de levar uma nota fiscal para comprovar o não
delito. Em suma, Armandinho ratifica como pensamentos rasos, neste caso o
preconceito racial, são severamente danosos à sociedade contemporânea. Dessa
forma , o resgate de pensadores do século XVII , como Descartes e Francis
Bacon, presumem-se não tolo, mas fundamental.
Consoante ao
abordado , Descartes em “O Discurso do método” expõe a dualidade entre a
cegueira do senso-comum (uso do termo “bom-senso”) em:
“O bom senso
é a coisa do mundo mais bem distribuída: todos pensamos tê-lo em tal medida que
até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar mais
bom senso do que aquele que têm.” (Descartes, Discurso do Método pg 1)
.Porém , o
autor não finda sua analise apenas na crítica , mas propõe uma forma de
escaparmos dessas verdade superficiais. Para tanto , Descartes julga como
necessário instrumentalizarmos nossa razão com o propósito dos nossos sentidos
não serem passiveis de engano em
“eu
procure inclinar-me mais para o lado da desconfiança do que para o da
presunção, e que, observando com um olhar de filósofo as variadas ações e
empreendimentos de todos os homens, não exista quase nenhum que não me pareça
fútil e inútil ’’ (Discurso do Método pg 2).
Ademais, a fuga do
senso comum também foi alvo de estudo de Francis Bacon. No entanto , o pensador
aborda as falhas dentre o próprio intelecto humano que são capazes de erros ao
afirmar que
“ A lógica tal como é hoje usada mais vale para consolidar e
perpetuar erros, fundados em noções vulgares, que para a indagação da verdade,
de sorte que é mais danosa que útil. ” (Pag 8 Novum Organum).
Assim, Bacon julga também necessário instrumentalizarmos nosso próprio intelecto ao exaltar que
Assim, Bacon julga também necessário instrumentalizarmos nosso próprio intelecto ao exaltar que
"procure habituar-se à complexidade das coisas, tal como é
revelada pela experiência; procure, enfim, eliminar, com serenidade e
paciência, os hábitos pervertidos, já profundamente arraigados na mente”.
Em suma, a união dos meios propostos pelos pensadores do
século XVII é fundamental para esquivarmos dos equívocos, dos vícios e, neste
caso, dos preconceitos. Dessa forma, caso o ego das autoridades citadas fosse
passível de flexibilidade , isto é , esquivar-se da assimilação rasa entre cor
de pele e ser criminoso , os danos sociais seriam menores. Não obstante , isso
de pouco aproxima-se de uma realidade psicológica sintetizada na frase do filosofo
grego Heráclito “os homens buscam em seus pequenos mundos e não no grande ou
universal”.
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