O cartunista Alexandre Beck, por meio de suas tirinhas de "Armandinho", ilustra uma realidade ainda pertinente no Brasil: Camilo, amigo negro de Armandinho, necessita apresentar uma nota fiscal que comprove a posse de sua bicicleta para o policial (o que não foi exigido de Armandinho) em uma tira, enquanto em outra ele não deseja aceitar uma corrida com o amigo até a "Fê", dizendo que não é seguro, podendo-se perceber a presença de um policial ao lado da menina. Infere-se que, a partir destas ilustrações, há uma construção discriminatória do indivíduo negro na sociedade brasileira, cuja imagem é frequentemente associada ao crime e à violência, incidindo assim na invariável forma de tratamento que este sofre diariamente, sempre gerando desconfiança e temor aos olhos de quem erroneamente enxerga uma ameaça à sua vida.
Mesmo as bases epistemológicas da ciência moderna sendo iniciadas no século XVII, é perceptível que o falso conhecimento, aliado às formas diversas de preconceito, são amplamente difundidos na realidade. Ao exigir de Camilo uma comprovação de propriedade da bicicleta, o policial deixa suas convicções pessoais ordenar o seu pensamento acerca do menino, o que seria inadmissível para René Descartes quando se procura alcançar o verdadeiro conhecimento do mundo, além de utilizar como referência a visão negativa sobre o negro difundida na sociedade (uma pessoa pobre e excluída que irá procurar meios criminosos para obter o que necessita ou deseja), algo que Francis Bacon associaria aos "falsos ídolos" que impedem o ser humano alcançar um conhecimento mais genuíno (no caso, pode-se associar o fato retratado ao ídolo da caverna, pelo policial não procurar a realidade além daquela que é gerada para ele, ou ao ídolo do teatro, expresso pela mídia que constrói uma ideia falsa mas que parece-lhe verdadeira por acreditar na reputação de quem lhe apresenta). O conhecimento mais verídico apresentado nas tirinhas, infelizmente, é o medo de Camilo de chegar perto do policial, pois sua experiência mostra que poderá ser julgado apenas por suas características físicas, especialmente pela cor de sua pele.
Eduardo Cortinove Simoes Pinto
1°ano Direito Matutino
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