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quarta-feira, 27 de março de 2019

O racismo fundamentado na experiência empírica


Na obra “Novum Organum” de Francis Bacon e em “Discurso do Método” de René Descartes, ambos abordam a importância da experiência empírica para a validação do resultado de uma investigação científica, abordando também como essa experiência empírica é regida por preconceitos e ideias pré estimuladas, que afetam no julgamento e na visão de mundo. Bacon ainda propõe o conceito de Ídolos, falsas projeções de mundo, que dificultam a enxergar a realidade de forma neutra.
Nas tirinhas de “Armandinho” de Alexandre Beck é evidenciado como a experiência empírica nos afeta nos dia-a-dia e nas atitudes que tomamos. Armandinho convida Camilo, um personagem negro, para apostar uma corrida, Camilo rapidamente aceita, mas ao perceber que existe um policial fardado no lugar onde eles deveriam correr desiste, evidenciando como a população negra desde criança é ensinada a temer os policias, por conta do histórico de violência policial contra negros que existe no Brasil e em grande parte do mundo. Ao mesmo tempo, Armandinho não consegue enxergar o motivo pelo qual seu amigo desiste, pois, por ele ser branco, aquele policial não apresenta uma ameaça para ele. Essa segurança do personagem pode ser compreendida pelo Ídolo da caverna de Bacon, quando o indivíduo não reconhece uma realidade que não é a sua como existente.
A segunda tirinha mostra que a desconfiança de Camilo estava correta pois, ao passar por um policial de bicicleta, em uma situação inesperada para Armandinho, eles são abordados e o policial pede para que apresentem uma nota fiscal, enquanto Armandinho fica sem reação, Camilo prontamente retira do seu bolso a nota fiscal do veículo. Isso mostra que com base na experiência de Camilo ele já está acostumado a ser acusado de situações, como furto, simplesmente por ser negro, sem haver nenhuma prova ou evidência, o que para Armandinho é uma experiência desconhecida.
Essa tirinha se apresenta apenas como uma metonímia da realidade, pois casos de racismo policial são muito comuns atualmente. Um mais recente que pode ser usado para contextualização, é o do jovem negro de 19 anos estrangulado até a morte por um segurança no supermercado Extra no Rio de Janeiro, simplesmente porque o segurança desconfiou que ele estava furtando algo do estabelecimento. Desse modo vemos como para a população negra confiar em pessoas que deveriam promover sua segurança se torna uma tarefa quase impossível, pois a experiência de anos mostra como o racismo está presente no julgamento desses policiais.



Isabella Stevanato Frolini
Direito Noturno,primeiro ano

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