Na obra “Novum Organum” de
Francis Bacon e em “Discurso do Método” de René Descartes, ambos abordam a importância
da experiência empírica para a validação do resultado de uma investigação
científica, abordando também como essa experiência empírica é regida por
preconceitos e ideias pré estimuladas, que afetam no julgamento e na visão de
mundo. Bacon ainda propõe o conceito de Ídolos, falsas projeções de mundo, que
dificultam a enxergar a realidade de forma neutra.
Nas tirinhas de “Armandinho”
de Alexandre Beck é evidenciado como a experiência empírica nos afeta nos
dia-a-dia e nas atitudes que tomamos. Armandinho convida Camilo, um personagem
negro, para apostar uma corrida, Camilo rapidamente aceita, mas ao perceber que
existe um policial fardado no lugar onde eles deveriam correr desiste,
evidenciando como a população negra desde criança é ensinada a temer os
policias, por conta do histórico de violência policial contra negros que existe
no Brasil e em grande parte do mundo. Ao mesmo tempo, Armandinho não consegue
enxergar o motivo pelo qual seu amigo desiste, pois, por ele ser branco, aquele
policial não apresenta uma ameaça para ele. Essa segurança do personagem pode
ser compreendida pelo Ídolo da caverna de Bacon, quando o indivíduo não
reconhece uma realidade que não é a sua como existente.
A segunda tirinha mostra que
a desconfiança de Camilo estava correta pois, ao passar por um policial de
bicicleta, em uma situação inesperada para Armandinho, eles são abordados e o
policial pede para que apresentem uma nota fiscal, enquanto Armandinho fica sem
reação, Camilo prontamente retira do seu bolso a nota fiscal do veículo. Isso
mostra que com base na experiência de Camilo ele já está acostumado a ser
acusado de situações, como furto, simplesmente por ser negro, sem haver nenhuma
prova ou evidência, o que para Armandinho é uma experiência desconhecida.
Essa tirinha se apresenta
apenas como uma metonímia da realidade, pois casos de racismo policial são muito
comuns atualmente. Um mais recente que pode ser usado para contextualização, é
o do jovem negro de 19 anos estrangulado até a morte por um segurança no
supermercado Extra no Rio de Janeiro, simplesmente porque o segurança
desconfiou que ele estava furtando algo do estabelecimento. Desse modo vemos
como para a população negra confiar em pessoas que deveriam promover sua
segurança se torna uma tarefa quase impossível, pois a experiência de anos
mostra como o racismo está presente no julgamento desses policiais.
Isabella Stevanato Frolini
Direito Noturno,primeiro ano
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