Diferentes realidades sociais
Descartes estabelece, no Discurso do Método, um modo de se
aproximar à verdade baseado no uso da razão, utilizando-se da dúvida para
alcançar um conhecimento sólido. Nessa perspectiva, a clareza do pensamento
seria o critério para determinar algo como verdadeiro.
Através desse pensamento pode-se compreender o comportamento
de Armandinho nas duas tirinhas, ao estranhar o pedido para que mostre a nota
fiscal e de não entender por que não seria seguro para seu amigo correr, na
outra situação. Na visão do menino, a função do policial é a de garantir a
segurança das pessoas e como ele não fez nada ilegal não haveria motivo para
temer qualquer outra coisa. Essa construção de pensamento se dá pois Armandinho
provavelmente nunca teve contato com a violência ou a acusação injusta de um
policial antes.
Bacon, ao criticar a forma de como o conhecimento era
produzido até sua época, cria um método próprio para isto, que seria o método
indutivo. Nesse método a análise de casos particulares e específicos das
experiências cotidianas levariam a formação do conhecimento.
Aproxima-se dessa forma de pensar o personagem Camilo, que
lida de maneira diferente da de Armandinho com as situações envolvendo o
policial. As atitudes de Camilo parecem ser advindas de uma experiência pessoal
do personagem envolvendo a polícia, dessa forma a criança tem medo e age com
cautela diante da autoridade para evitar um possível conflito.
Certamente que nenhum dos garotos teria a capacidade de
levar à fundo a metodologia proposta pelos filósofos, no entanto é interessante
comparar as perspectivas completamente diferentes de cada um deles. Há
implicitamente na tirinha uma crítica a violência policial de caráter racial,
pois Camilo, personagem negro, aparenta ter vivido um conflito anterior, muito
diferente de seu amigo Armandinho que através de sua fala demonstra nunca ter
vivenciado algo assim anteriormente.
Gustavo Dias Polini (Direito - Noturno)
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