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quarta-feira, 27 de março de 2019


Diferentes realidades sociais   


Descartes estabelece, no Discurso do Método, um modo de se aproximar à verdade baseado no uso da razão, utilizando-se da dúvida para alcançar um conhecimento sólido. Nessa perspectiva, a clareza do pensamento seria o critério para determinar algo como verdadeiro.

Através desse pensamento pode-se compreender o comportamento de Armandinho nas duas tirinhas, ao estranhar o pedido para que mostre a nota fiscal e de não entender por que não seria seguro para seu amigo correr, na outra situação. Na visão do menino, a função do policial é a de garantir a segurança das pessoas e como ele não fez nada ilegal não haveria motivo para temer qualquer outra coisa. Essa construção de pensamento se dá pois Armandinho provavelmente nunca teve contato com a violência ou a acusação injusta de um policial antes.

Bacon, ao criticar a forma de como o conhecimento era produzido até sua época, cria um método próprio para isto, que seria o método indutivo. Nesse método a análise de casos particulares e específicos das experiências cotidianas levariam a formação do conhecimento.

Aproxima-se dessa forma de pensar o personagem Camilo, que lida de maneira diferente da de Armandinho com as situações envolvendo o policial. As atitudes de Camilo parecem ser advindas de uma experiência pessoal do personagem envolvendo a polícia, dessa forma a criança tem medo e age com cautela diante da autoridade para evitar um possível conflito.

Certamente que nenhum dos garotos teria a capacidade de levar à fundo a metodologia proposta pelos filósofos, no entanto é interessante comparar as perspectivas completamente diferentes de cada um deles. Há implicitamente na tirinha uma crítica a violência policial de caráter racial, pois Camilo, personagem negro, aparenta ter vivido um conflito anterior, muito diferente de seu amigo Armandinho que através de sua fala demonstra nunca ter vivenciado algo assim anteriormente.

Gustavo Dias Polini (Direito - Noturno)

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