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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

A coerção da educação

          Sempre acreditei que a educação é a base da sociedade e que ela é a responsável por formar os indivíduos para que eles atendam às expectativas e exigências do mundo, para que tenham bagagem e conhecimento para frequentar uma universidade, ter um emprego e alcançar a tão sonhada “estabilidade” que, acredito eu, é almejada por parte da população. Porém, agora, venho me questionando acerca do assunto educação e toda sua abrangência e me permito indagar que talvez ela realmente seja o elemento formador do ser social, como dizia Durkheim, e talvez ela seja o pilar da sociedade, como Comte a via; Mas, como ter certeza de que sua função e que a visão que tenho dela não é mera influência da sociedade moderna? Contudo, independente de qual seja a resposta e independente do fato de que seja verdade ou não essa função social da educação, é recorrente o pensamento acima descrito, principalmente nos lugares privilegiados da sociedade.
Quando digo educação, coloco-a de forma ampla, considerando o que é aprendido nas escolas, em casa e de todos os valores que são passados de geração em geração. Não discordo em momento algum da importância da educação, todavia, passei a enxergá-la como mais um dos elementos coercitivos que sustentam a sociedade como ela é.
Aprendi, na escola e em casa, a forma “correta” de me portar, de agir, de buscar todas as coisas que almejo e que pretendo alcançar ao longo da minha vida, mas, também, preciso considerar o meio em que estava inserida. A educação que recebi me instruiu a ser um “ser social” e esse é justamente o seu objetivo. Porém, quando algum indivíduo destoa com o cumprimento de todas as maneiras de ser e fazer, esse passa a ser julgado na sociedade, sem que a causa do fato seja analisado a fundo.
Agora, alcancei o ponto onde o fato da coerção da educação deixa de ser positivo para a sociedade e passa a ser, digamos, um problema. Imaginar um sistema educacional e determinados valores humanos que são passados pelas instituições, seja escola, família ou comunidade, às pessoas e rotula-los como únicos certos, causa uma problemática na sociedade na medida em que impõe todos esses “valores formadores” como se fossem universais, sem considerar as particularidades de cada corpo social dentro do todo.
Li uma reportagem de Felipe Betim no jornal El País que entrevistava a psicóloga Cristina Fernandes.  O título do texto é  “As favelas têm culturas locais. Não posso fazer uma leitura moralizante” e ele fala de uma questão da dinâmica cultural das favelas no que diz respeito, para a maioria das pessoas,  a violência sexual, mas que na comunidade era uma cultura sexual absolutamente normal para todas as crianças e adolescentes, ou seja, as crianças são educadas e recebem valores das instituições que as cercam e que contribuem para um formação cultural diferente do que o corpo social, no geral, influenciado pelo pensamento político e econômico atual, prega. Essa reportagem, a qual li há tempos, marcou-me visto que comecei a me questionar sobre a ideia de influencia no meio e vontade individual. Durkheim, por exemplo, difundia um pensamento que considerava a influencia na liberdade individual exercida pelo coletivo que cada um está inserido e pela cultura que é vivenciada. Quando coloco em paralelo a reportagem e a visão do sociólogo, sustento que a sociedade moderna, mesmo que não devesse, deixa de considerar a influência que o coletivo, a cultura, os valores e a educação que um indivíduo recebe permitem que haja a possibilidade de que esses quesitos influenciem as ações e a liberdade do mesmo.  
O ser social imaginado pelo corpo social, generalizadamente, é criado por meio da educação e dos valores que lhes são passados pelas instituições. Esse ser é criado porque a prioridade é o bem-estar do coletivo e o equilíbrio da sociedade e, para o alcance disso, o indivíduo é moldado e educado para atender ao que é esperado, entretanto, a desconsideração de espaços sociais distintos do “normal” apenas acentuam a desigualdade e o abismo social presente na atual sociedade. 

1º  ano noturno 

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