Sempre
acreditei que a educação é a base da sociedade e que ela é a responsável por
formar os indivíduos para que eles atendam às expectativas e exigências do mundo,
para que tenham bagagem e conhecimento para frequentar uma universidade, ter um
emprego e alcançar a tão sonhada “estabilidade” que, acredito eu, é almejada
por parte da população. Porém, agora, venho me questionando acerca do assunto
educação e toda sua abrangência e me permito indagar que talvez ela realmente
seja o elemento formador do ser social, como dizia Durkheim, e talvez ela seja
o pilar da sociedade, como Comte a via; Mas, como ter certeza de que sua função
e que a visão que tenho dela não é mera influência da sociedade moderna? Contudo,
independente de qual seja a resposta e independente do fato de que seja verdade
ou não essa função social da educação, é recorrente o pensamento acima descrito,
principalmente nos lugares privilegiados da sociedade.
Quando digo
educação, coloco-a de forma ampla, considerando o que é aprendido nas escolas,
em casa e de todos os valores que são passados de geração em geração. Não
discordo em momento algum da importância da educação, todavia, passei a
enxergá-la como mais um dos elementos coercitivos que sustentam a sociedade
como ela é.
Aprendi, na
escola e em casa, a forma “correta” de me portar, de agir, de buscar todas as
coisas que almejo e que pretendo alcançar ao longo da minha vida, mas, também,
preciso considerar o meio em que estava inserida. A educação que recebi me instruiu
a ser um “ser social” e esse é justamente o seu objetivo. Porém, quando algum
indivíduo destoa com o cumprimento de todas as maneiras de ser e fazer, esse
passa a ser julgado na sociedade, sem que a causa do fato seja analisado a
fundo.
Agora,
alcancei o ponto onde o fato da coerção da educação deixa de ser positivo para
a sociedade e passa a ser, digamos, um problema. Imaginar um sistema
educacional e determinados valores humanos que são passados pelas instituições,
seja escola, família ou comunidade, às pessoas e rotula-los como únicos certos,
causa uma problemática na sociedade na medida em que impõe todos esses “valores
formadores” como se fossem universais, sem considerar as particularidades de
cada corpo social dentro do todo.
Li uma
reportagem de Felipe Betim no jornal El País que entrevistava a psicóloga
Cristina Fernandes. O título do texto é “As favelas têm culturas locais. Não posso
fazer uma leitura moralizante” e ele fala de uma questão da dinâmica cultural
das favelas no que diz respeito, para a maioria das pessoas, a violência sexual, mas que na comunidade era
uma cultura sexual absolutamente normal para todas as crianças e adolescentes,
ou seja, as crianças são educadas e recebem valores das instituições que as cercam
e que contribuem para um formação cultural diferente do que o corpo social, no
geral, influenciado pelo pensamento político e econômico atual, prega. Essa
reportagem, a qual li há tempos, marcou-me visto que comecei a me questionar
sobre a ideia de influencia no meio e vontade individual. Durkheim, por
exemplo, difundia um pensamento que considerava a influencia na liberdade
individual exercida pelo coletivo que cada um está inserido e pela cultura que
é vivenciada. Quando coloco em paralelo a reportagem e a visão do sociólogo,
sustento que a sociedade moderna, mesmo que não devesse, deixa de considerar a
influência que o coletivo, a cultura, os valores e a educação que um indivíduo recebe
permitem que haja a possibilidade de que esses quesitos influenciem as ações e a
liberdade do mesmo.
O ser social
imaginado pelo corpo social, generalizadamente, é criado por meio da educação e
dos valores que lhes são passados pelas instituições. Esse ser é criado porque
a prioridade é o bem-estar do coletivo e o equilíbrio da sociedade e, para o
alcance disso, o indivíduo é moldado e educado para atender ao que é esperado,
entretanto, a desconsideração de espaços sociais distintos do “normal” apenas
acentuam a desigualdade e o abismo social presente na atual sociedade.
1º ano noturno
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