Fatos sociais seriam acontecimentos derivados da interação entre individuos em uma sociedade. Consistem, segundo Emile Durkheim, em maneiras de agir, pensar e sentir externas ao indivíduo, que por virtude são investidas de um poder coercitivo e exercem controle sobre ele.
Um fato social deveria ser observado e analisado por um indivíduo despido de qualquer pré-noção anterior.
Porém, sua observação e análise são facilmente contaminados pela subjetividade derivada das experiências de prévias vivenciadas pelo observador. Há uma tentativa de se expurgar os pré-conceitos do observador dos fatos sociais, o que é extremamente difícil de se obter, sendo praticamente não factível.
Para a minimização destes preconceitos, poderia ser sugerida uma observação coletiva do fato, ao invés da observação individual que seria mais propensa a inclusão de pré-noções, contudo a observação de fatos sociais coletivamente (principalmente no caso de normas e valores pessoais) também é complexa, de grande dificuldade e apresenta diversos desafios, que o torna provavelmente maior que a do expurgo de pré-noções individuais.
O problema do contágio dos pré-conceitos nas observações sociais tem caráter sistêmico, dado que, estando inseridos em determinado universo e sendo parte integrante deste universto, todas as produções, pensamentos, histórias e nosssos limites estão dentros de nosso universo. Embora isso aparentemente seja uma afirmação de uma obviedade que beira a estupidez, ela nos fornece argumentos que nos permitem deduzir que não é possível obter informações externas a nosso universo estando inseridas nele. Exemplificando, seria impossível à gema do ovo obter conhecimento direto do resto do mundo que cerca o ovo: seu campo de visão, assim como todas as influências que recebe estão limitadas ao seu universo, a saber, o interior da casca do ovo. Qualquer influência exterior ao ovo aparenta, para a gema, ser variação do seu universo, sendo, então, impossível para a gema traçar um retrato detalhado do mundo exterior.
A única maneira que a gema teria para tal observação direta dependeria da quebra da casca do ovo, o que teria, de imediato, duas consequências: 1- tendo a casca quebrada, a gema estaria inserida em um novo universo, com a única diferença de que este seria mais abrangente que o universo de que provém e 2- sendo gema e sido gerada e vivido no interior do ovo, todas as suas formas de compreender o universo seriam características de seu universo, isso implica que provavelmente sua forma de compreensão limitada não se aplicaria ao universo exterior após a quebra da casca.
Cabe notar que nossa compreensão do universo se assemelha à da gema do ovo, não sendo possível para nós perscutar qual a dimensão total do nosso universo, nem ter indícios diretos de sua formação. Assim, além das teorias criacionistas, há poucas formas que encontramos de tentar criar uma teoria para a origem do universo. Uma delas seria baseada na variação da intensidade das ondas cósmicas componentes da radiação de fundo do universo, e a partir delas foi possível inferir em uma concentraçao maior dessas radiações num passado remoto, a que foi dado o nome de Big Bang. Estando inseridos no universo, podemos fazer suposiçoes e teorizar sobre o seu formato exterior e sua origem, mas a certeza de tal informação é, praticamente, impossível de se obter.
É possível traçar paralelos entre o problema do ovo e da observação do fato social citado por Durkheim. O fato social, sendo um fenômeno emergente de uma população, é, por natureza, "contaminado" pelo modus operandi do resto do universo a que pertence, e nossa observação e análise também o são, invariavelmente.
Segundo a teoria dos conjuntos, é possível analisar o fato social como um conjunto que abarca e extrapola o conjunto humano, sendo este um subconjunto do conjunto fato social. A análise de um conjunto a partir de um subconjunto é uma extrapolação e generalização que resulta em erros analíticos.
Assim, toda análise de fatos sociais, estando inseridos em uma sociedade, é parcial, contaminada pelas nossas crenças e pré-noções inconscientes, viciada em suas próprias bases, aproximando-se mais de um factóide que de um fato social. Contudo, esse é o máximo de "pureza" possível para nossa análise dos fatos sociais.
Guilherme M. Hotta, 1º ano - Noturno
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