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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Ensaio sobre Durkheim

A análise de filmes e livros análogos a teorias sociais e antropológicas é fundamental para a compreensão da realidade. Nesse sentido, a Onda, Direção de Dennis Gansel, pode ser analisado conforme os ditames de Durkheim sobre a consciência coletiva da sociedade e sobre o suicídio. Baseado em uma história real ocorrida na Califórnia em 1967, o filme expõe o quão problemática e perigosa é a ideologia fascista nos jovens. Um professor, ao ensinar autocracia, decide incorporar, para métodos didáticos, um experimento que explique na prática os mecanismos do fascismo e do poder para seus alunos. Percebe-se que em pouco tempo o movimento ganha proporções inesperadas e uma força coletiva o qual se transforma em um próprio ser social, de Durkheim, o qual alunos integrantes distanciam-se da liberdade individual para propagar o poder da UNIDADE do movimento. Quando a situação se eleva a níveis desproporcionais, sendo motivo de violência e segregação, o professor decide interromper a experiência. Não obstante, a não-aceitação de um membro pelo fim do “A Onda” tornou-se motivo para tirar a própria vida. Durkheim analisou o suicídio como o fator mais anti-social possível, resultado de um fenômeno social em que o indivíduo, por não se adequar aos fatos sociais/corpo social prefere a morte. Da mesma forma, como no filme, o personagem, pós encerramento do experimento, não vê outro caminho possível para si ao perceber que abriu mão de sua individualidade pelo movimento, logo, suicida-se.
Semelhante a isso, observa-se, também, que a teoria do sociológico converge com a obra ficcional cânone de José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira, uma vez que o autor, ao versar sobre a natureza humana por uma perspectiva hobbesiana, demonstra a desumanização completa do homem após uma política governamental “necessária” para amenizar os efeitos de uma epidemia de cegueira, que contaminou uma parcela da população, que tinha por base trancafiar os contaminados em um manicómio abandonado. Frisa-se, com o decorrer da obra, a ausência do Estado para com os afetados e como isso intensifica as condições precárias e animalescas do homem, seja por meio da sexualidade, da ganância, dos instintos primitivos e/ou da segregação. Por esse prisma, o autor, ao preocupar-se, não com a causa da doença ou com sua cura, mas sim com o desmoronar completo da sociedade, ele discorre sobre as consequências de perder tudo aquilo que é civilizado: o caos desumano. Por trás dessa obra fictícia, analisa-se que, em seu bojo, o estado em que os afetados ficaram pós descaso de um poder maior, pode ser visto por uma “perspectiva durkheimniana” no que diz respeito à Força Moral. Assim como na ruptura social acarretada no livro pela ausência de uma autoridade soberana, seja ela, o Direito; o Soberano; a Moral; a Hierarquia; Durkheim analisa que se não há força moral, coercitiva ou não, a ser respeitada resta o caos em que é a lei do mais forte que reina, assim como no desenrolar da obra, em que “o estado de guerra é necessariamente crônico”.  
Depreende-se, portanto, que, transpassando-se as teorias de Durkheim para a realidade complexa da dinâmica contemporânea, assim como nas distopias dos filmes e livros, têm-se um verdadeiro Ensaio sobre Durkheim em que se pode analisar o perigo de uma ideologia alienante atual em que, muitas vezes, é maquiada como as impregnadas no senso comum das falas de alguns políticos de vieses simplistas e reducionistas assim como na necessidade, para o sociólogo, de Leis as quais dever reger o homem para que haja sociedade.  

“É desta massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade” [...]
SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. Companhia das Letras. 24º reimpressão, 2002.

Débora Amorim de Paula - 1º ano Direito - DIURNO

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