A
análise de filmes e livros análogos a teorias sociais e antropológicas é
fundamental para a compreensão da realidade. Nesse sentido, a Onda, Direção de Dennis
Gansel, pode ser analisado conforme os ditames de Durkheim sobre
a consciência coletiva da sociedade e sobre o suicídio. Baseado em uma história real ocorrida na Califórnia em
1967, o filme expõe o quão problemática e perigosa é a ideologia fascista nos
jovens. Um professor, ao ensinar autocracia, decide incorporar, para métodos
didáticos, um experimento que explique na prática os mecanismos do fascismo e
do poder para seus alunos. Percebe-se que em pouco tempo o movimento ganha
proporções inesperadas e uma força coletiva o qual se transforma em um próprio
ser social, de Durkheim, o qual alunos integrantes distanciam-se da liberdade
individual para propagar o poder da UNIDADE do movimento. Quando a situação se
eleva a níveis desproporcionais, sendo motivo de violência e segregação, o
professor decide interromper a experiência. Não obstante, a não-aceitação de um
membro pelo fim do “A Onda” tornou-se motivo para tirar a própria vida.
Durkheim analisou o suicídio como o fator mais anti-social possível, resultado
de um fenômeno social em que o indivíduo, por não se adequar aos fatos
sociais/corpo social prefere a morte. Da mesma forma, como no filme, o
personagem, pós encerramento do experimento, não vê outro caminho possível para
si ao perceber que abriu mão de sua individualidade pelo movimento, logo,
suicida-se.
Semelhante a isso, observa-se,
também, que a teoria do sociológico converge com a obra ficcional cânone de
José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira, uma vez que o autor, ao versar sobre a
natureza humana por uma perspectiva hobbesiana, demonstra a desumanização
completa do homem após uma política governamental “necessária” para amenizar os
efeitos de uma epidemia de cegueira, que contaminou uma parcela da população,
que tinha por base trancafiar os contaminados em um manicómio
abandonado. Frisa-se, com o decorrer da obra, a ausência do Estado para com os
afetados e como isso intensifica as condições precárias e animalescas do homem,
seja por meio da sexualidade, da ganância, dos instintos primitivos e/ou da
segregação. Por esse prisma, o autor, ao preocupar-se, não com a causa da doença ou com sua cura, mas sim com
o desmoronar completo da sociedade, ele discorre sobre as consequências de
perder tudo aquilo que é civilizado: o caos desumano. Por trás dessa obra fictícia,
analisa-se que, em seu bojo, o estado em que os afetados ficaram pós descaso de
um poder maior, pode ser visto por uma “perspectiva durkheimniana” no que diz
respeito à Força Moral. Assim como na ruptura social acarretada no livro pela
ausência de uma autoridade soberana, seja ela, o Direito; o Soberano; a Moral;
a Hierarquia; Durkheim analisa que se não há força moral, coercitiva ou não, a
ser respeitada resta o caos em que é a lei do mais forte que reina, assim como
no desenrolar da obra, em que “o estado de guerra é necessariamente crônico”.
Depreende-se, portanto, que,
transpassando-se as teorias de Durkheim para a realidade complexa da dinâmica
contemporânea, assim como nas distopias dos filmes e livros, têm-se um
verdadeiro Ensaio sobre Durkheim em que se pode analisar o
perigo de uma ideologia alienante atual em que, muitas vezes, é maquiada como
as impregnadas no senso comum das falas de alguns políticos de vieses
simplistas e reducionistas assim como na necessidade, para o sociólogo, de Leis
as quais dever reger o homem para que haja sociedade.
“É desta massa que nós somos
feitos, metade de indiferença e metade de ruindade” [...]
SARAMAGO, José. Ensaio
sobre a cegueira. Companhia das Letras. 24º reimpressão, 2002.
Débora
Amorim de Paula - 1º ano Direito - DIURNO
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