Socialismo
Nutella: Fetiche dos poderosos ou Consciência Social ?
Era
uma vez Gregório Werneck, nascido no Leblon, filho de um casal de
banqueiros, cuja vida era muito
confortável e luxuosa: acordava às 09:00 da manhã, o requintado café matinal –
composto por pão integral, queijo de cabra, nutella
e suco natural de pêssego – era servido por uma das dez empregadas da família –
a qual raras vezes recebia um “obrigado”; posteriormente, partia para o banho
na sua banheira de hidromassagem, depois jogava um playstation 4 na sala cinema, e, em seguida, o motorista – este nem
bom dia ouvia – o levava para escola, um
tradicional colégio bilíngue da cidade, onde já ficava até meia noite estudando
para o vestibular. Bons tempos, pensava ele, quando à noite sempre ia ao shopping ver algum filme ou comprar
alguma roupa, mesmo que nunca a usasse, mas que não saísse de lá sem nada na
mão...
Gregório
era um privilegiado. Facilmente conseguiu ser aprovado no curso de Publicidade
e Propaganda em uma excelente universidade pública. De início, achava muito
estranho o estilo de vida universitário: todos andavam de bermuda e chinelo, tomavam
a cerveja mais barata do botequinho mais fuleiro da esquina, conversavam horas
e horas após a aula sobre Marx, Gramsci, Focault, ao som de Caetano Veloso e
Chico Buarque... Lembrava que na escola mal dava atenção a esse filósofos, não
era contra, mas eles não despertavam seu interesse... Às quintas e
sábados, ia para as festas, onde havia
muita diversão, e só saía quando vomitasse e caísse no chão.
Estava
vivendo um momento único na sua vida – mas fantástico! – sabia que não era o
seu padrão de vida que havia decaído, mas era uma nova forma de encarar a
realidade, pelo menos enquanto tivesse na faculdade. Ao chegar na mansão, não
abria mão das mordomias que tinha... Não só ele, mas como quase todos da universidade,
com exceção dos cotistas. Estes, muitas vezes por terem de trabalhar durante o
dia ou não terem dinheiro sobrando, poucas vezes desfrutavam da vida acadêmica.
Gregório mal conversava com eles.
Como
Gregório era um rapaz bem boa praça, e para fazer uma média com a galera, logo
entrou na vida política do câmpus: ingressou no centro acadêmico e de antemão
já se prontificou a lutar pela continuação dos serviços de alimentação
estudantil, o RU, apesar de achar a comida uma gororoba e nunca nem ter entrado
no bandejão...
Depois,
associou-se ao núcleo de estudos marxista da faculdade, para aperfeiçoar seu
raso conhecimento e formar uma “consciência de classe” visando combater os
opressores burgueses do grande capital. No entanto, não achava que se encaixava nesse conceito,
nem seus pais, que estavam respondendo a um processo por lavagem de dinheiro de
políticos corruptos.
Ao
dirigir seu BMW, lotava o carro de estudantes, todos brancos e bem de vida,
ouvindo Negro Drama do Racionais e puxando um baseado para refletir melhor
sobre os problemas sociais do Rio de Janeiro. Quando pararam no semáforo, veio
uma criança descalça vendendo balas: eles nem abaixaram os vidros, deveria ser
um desses trombadinhas que só querem dinheiro para comprar drogas... Não
pensaram se era para juntar dinheiro para no jantar ter pelo menos alguma
mistura, além da farinha....
Alguns
dias depois, houve um evento sobre políticas públicas de inclusão social, e
Gregório foi um dos organizadores. Foram convidados alguns estudantes de ensino
médio de diversas comunidades. No dia, Gregório deu uma palestra impecável
sobre a luta para inserção dos mais pobres nas universidades, no mercado formal
de trabalho, na política. Tirou várias selfies
com os estudantes, gravou um vídeo para o YouTube,
mostrando-o, junto com seus colegas, como era caridoso e doava livros e
materiais de cursinho para os alunos de baixa renda. Ganhou vários likes.
Já
perto do final do evento, estava com muita raiva, pois esse bando de moleques “sem
educação” ainda não haviam saído e estavam ocupando o espaço dos
universitários, que queriam se reunir para debater as pautas do próximo
protesto que fariam contra a reforma do ensino médio...
E,
desse modo, Gregório e seus “parcas” levavam a romântica vida acadêmica,
dedicada à revolução e em prol da classe operária, à base de muita cachaça,
diversão, hipocrisia e pouca luta. Não se davam conta de que eram um bando de playboys mimados, fúteis, hipócritas que
não entendiam nada da realidade da população humilde e apenas estavam brincando
de revolucionários, pois não contribuíam em nada para melhorar a vida da
população, ao contrário, só agiam com escárnio diante dela, como se fosse um verdadeiro
tapa na cara, usando do ideal marxista como pano de fundo para ocultar a
verdadeira face do grupo opressor. Como dizia o grande poeta Ferreira Gullar: “Quando ser de esquerda dava cadeia, ninguém
era”.
Para
explicar cientificamente esse comportamento de Gregório, negligenciando a
realidade onde vive e tomando atitudes tão antagônicas às que era habituado,
Durkheim aponta para o “fato social”, que por meio de instituições (ex: a
universidade), costumes e valores (ex: a coletividade acadêmica e o viés
marxista imbuído no excerto, respectivamente) influenciam o indivíduo de tal
modo que suas atitudes são quase que premeditadas, tamanha coerção desses
agentes. Contudo, mesmo assim essa teoria ainda deixa muito a desejar quanto à
cara de pau de Gregório.
John R. Angelim Novais, 1º ano Direito Noturno.
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