Lá
estava ele, o jovem Harry Jordan, parado em meio àquela multidão que
impiedosamente produzia sons indistinguíveis entre si. No alto de seus 5 anos de idade só era capaz
de reconhecer o pai e o irmão, ambos ao seu lado, com vestimentas peculiares e
aparentemente específicas para a situação vivenciada naquele momento. A mente
de Harry era um grande poço de dúvidas sobre aonde estava, qual era o propósito
de sua presença entre tantos “adultos” e, principalmente, o pedaço de pano que
lhe fora entregue.
Aquele
pano branco com linhas e letras desenhadas por seu irmão não diziam nada a seu
analfabetismo infantil. Em vão, Jordan pega o pano em mãos e tenta compreender
o que as linhas querem dizer, algumas delas podem ser vistas em outros indivíduos
da multidão e o menino, pela primeira vez, sente-se mais familiarizado com os
outros dessa grande caminhada. Afinal, eles aparentemente estão
unidos ao garoto.
Subitamente,
em meio a esta longa marcha barulhenta, a multidão para. Todos
concomitantemente levantam seus braços direitos para cima de suas cabeças. O
menino, inteiramente desnorteado, olha para seu pai em busca de respostas. O
Sr. Jordan, por sua vez, realiza o sinal como todos os outros e, ao perceber
que Harry o fitava, ordena que o filho levante o braço em congruência com os demais, levantando o pano que seu irmão havia lhe dado. A criança obedece ao
pai.
Passado
um breve momento, o Sr. Jordan grita uma frase com toda a força de seus pulmões
repetitivamente, o irmão de Harry acompanha o pai e, em alguns segundos, toda a
massa humana ao redor do garoto bradava a frase em uníssono. O menino percebe
que o semblante geral é de raiva e indignação. Todos voltam a marchar e o ódio
passa a aflorar gradativamente mais em seus familiares. A partir desse ponto,
Harry entende instintivamente que estavam reunidos contra um mal maior,
algo que precisava ser combatido veemente por todas as forças ali presentes. O
garoto sente o ódio a sua volta, sente o
som da frase raivosa em uníssono passar em sua pele, sente a raiva aflorando em sua
alma. O menino precisa mostrar todo o poder de seu ódio, assim como seu irmão
e pai, para tanto, junta-se aos dois bradando: "Vocês não vão tomar o nosso
lugar".
Harry finalmente odiava esses “vocês”, nada mais,
naquele momento, poderia detê-lo em odiá-los e em marchar contra eles. O menino
agora era parte de seu meio.
Na calçada da rua em que marchavam, uma placa
indicava: “Bem-vindo a Charlottesville”.
Lucas Correa Faim - Direito Noturno
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