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domingo, 19 de abril de 2015

Se Descartes fosse brasileiro

René Descartes. Carioca, três irmãos, Deus e a negação ao conhecimento do mundo. Certo dia, algumas primaveras antes de seu primeiro enjoo matinal, a mãe ouviu, em um programa de TV, nomes importantes. Francis Bacon, Georg Hegel, Thomas Hobbes. Assim, então, decidiu nomear seus descendentes: vidas melhores, tinha esperanças, tais nomes lhes dariam; vidas diferentes.
Com o peso da história em suas costas, Descartes viu seus dias passarem em meio a hábitos os quais não se dava o prazer de questionar. Gastava seus domingos entre a igreja no fim da rua e o campinho em frente de casa. Eram indispensáveis, as manhãs: “Só Deus é perfeito!”, o padre dizia. Toda sua família, com a cabeça, concordaria. Quando o sol deflagrara o ardor máximo da tarde, encontrava-se entre os amigos, onde o suor que escorria em seus rostos nada expunha a respeito da racionalidade existente em, uma bola, perseguir. Mas brasileiro tem vocabulário próprio, logo aprendeu: futebol é paixão.
Que artigo de luxo era a boa educação! Era o que todos diziam. Saúde, política e corrupção: mentes sempre feitas acerca dos assuntos. Não havia o que indagar; percebeu, enquanto seu tempo de criança inocente há muito passara, que enraizado era o senso comum em sua terra natal. A flexibilidade e a improvisação de atos, a todo momento, eram testemunhadas. Instrumento para a vida, a razão era esquecida. A desvalorização de todos os frutos provenientes de sua pátria se evidenciava na busca constante pelas belezas presentes além dos mares. Ah, mais uma vez, o senso comum! Em solo brasileiro não há fruto bom algum.
Somente o tempo lhe trouxe a lucidez pela qual não sabia que passara toda sua existência buscando. Confrontar a superficialidade é de uma extrema necessidade; chegar ao conhecimento depende do aprofundamento do objeto estudado. Coisa bela era a razão, que, quando bem articulada, proporcionava o sumo saber! Mas de que valia elaborar dúvidas se precisasse renegar os sentidos? Qual seria a coerência do existir se os sentimentos, as emoções, as alegrias e as tristezas fossem superadas pelo pensar estritamente racional?
René Descartes. Carioca, três irmãos, Deus e a negação ao conhecimento do mundo. Descartes, sendo brasileiro, vê a essência da vida em sorrisos durante o carnaval, beijos roubados entre amantes, lágrimas nos olhos orgulhosos de um novo pai, alegria dos amigos vivendo a Copa em seu país. Inexiste a necessidade de dominar a razão pura se, para chegar a ela, for necessário abdicar-se dos sentidos, o viver em sua forma mais pura.
Isabelle Elias Franco de Almeida
1˚ ano - Direito (noturno)
Introdução a Sociologia - aula 2

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