Quando, em 1637, René Descartes publicou o Discurso do Método, não só foi de encontro aos paradigmas da época — demonstrando uma maneira muito mais racional de se pensar —, como também criou as bases para a Filosofia Moderna, influenciando diversas gerações de pensadores. Na dita obra, Descartes desqualifica todas as certezas que não sejam baseadas na razão: Convicções pessoais, conhecimentos transmitidos pelo hábito e evidências geradas pelos sentidos ou pela imaginação. Para Descartes, a razão é o único caminho para a verdade. A dúvida, sua única certeza, é o sustentáculo de seu pensamento.
É notável na atualidade, em contraponto ao método que fez Descartes tão famoso, a facilidade da sociedade brasileira em se ater ao senso comum, à afirmações sem embasamento sólido, que acabam se tornando verdades irrefutáveis pela simples repetição realizada pelos meios midiáticos. Na atual polarização tucano-petista, pululam afirmações como “Dilma e Lula sabiam de tudo” e “o PT quer transformar o Brasil em Cuba”, as quais muitas vezes as pessoas aceitam como certezas sem ao menos questioná-las. Pior: Ao considerá-las duvidosas, você corre o risco de ser escorraçado, chamado de “petralha” e ainda receber um pouco afetuoso convite para “voltar para Cuba”.
Talvez a prova mais contundente da falência do método racional no atual panorama político brasileiro seja a entrevista concedida por uma jovem durante uma passeata contra o Governo: Indagada pelo repórter sobre seu posicionamento político, não hesitou em afirmar sua identificação com a Direita. Todavia, quando perguntada sobre o porquê de tal posicionamento, não soube responder e teve que apelar para sua mãe. Esse caso, infelizmente, não é uma exceção na sociedade brasileira, onde o pensamento de massa — pré-concebido pela mídia e apenas deglutido pela população — é considerado normal, enquanto que o questionamento de tais ideias e o pensar crítico são vistos sempre pejorativamente. Em tempos de tantas convicções geradas pela polarização tucano-petista, é curioso — e preocupante — que não haja espaço para a dúvida, a única certeza no mundo.
Paulo Cereda
1º ano - Direito (diurno)
Introdução à Sociologia - Aula 02
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