“É necessário que ao menos uma vez na vida você duvide, tanto quanto
possível, de todas as coisas.” René Descartes.
Nascido em
1596, René Descartes vivenciou o período chamado de Revolução Científica, onde se
consolida a separação de ciência e filosofia. Marcada pela Renascença, a
sociedade da época encontrava-se mais cética a respeito da possibilidade de um
conhecimento genuíno.
Nesse
contexto sociocultural, o britânico Francis Bacon publica seu Novum Organum, propondo um novo método para
a ciência, baseando-se principalmente no raciocínio dedutivo e em aplicações
práticas. Descartes apreciou muito a obra de Bacon pela intenção de expandir o
conhecimento e a investigação do mundo. Contudo, discordou fortemente do método
estabelecido por Bacon. Assim, em seu Discurso
do Método, Descartes apresenta suas ideias para a construção de uma nova
forma de organização científica do conhecimento.
Com o
objetivo de tornar suas crenças estáveis, Descartes então estabelece o método
conhecido por “dúvida hiperbólica”, deixando de lado toda e qualquer ideia cuja
verdade possa ser contestada. Ao submeter suas crenças a argumentos cada vez
mais céticos, Descartes “salva” apenas duas: Deus e a matemática. Isso porque
seriam as únicas crenças cabíveis no conceito de “inatismo”, ou seja, ideias naturalmente
nascidas à mente dos homens.
Tal ideal de
inatismo traduz a profunda confiança de Descartes na razão ou bom senso, que seria um bem universalmente partilhado
dentre os homens e responsável por todo conhecimento seguro. Dessa forma,
inaugura a corrente filosófica conhecida por Racionalismo, que viria a ser a oposição
à corrente filosófica que Bacon já se enquadrava, o Empirismo.
A grande questão que Descartes enfrentara ao
adotar a dúvida metódica como instrumento de verificação do saber, contudo,
seria sua própria existência. Como provar que a existência é real? Santo
Agostinho, no início do século V, afirmara em sua obra De Civitate Dei (“A Cidade de Deus”) ter certeza de sua própria
existência, pois, se estivesse errado, isso em si provaria sua existência. Ou
seja, para estar errado é preciso existir. Por essa mesma lógica – mesmo que
desenvolvida distintamente – Descartes supera esse bloqueio e formula a
primeira certeza do método: “Penso, logo
existo”, fundamental para sua investigação.
O rigor metódico
e a reverência pela razão constituem o maior legado do autor. Muitos dos filósofos
que o sucederam tiveram em suas ideias traços marcadamente cartesianos, como
Bento de Espinosa e Gottfried Leibniz. Mesmo Immanuel Kant, que um século
depois refutava Descartes, adota a primeira certeza cartesiana como cerne e
início de seu idealismo transcendental em Crítica
da Razão Pura.
Lívia Armentano Sargi
1° ano - Direito (diurno)
Introdução à Sociologia, aula 2.
Nenhum comentário:
Postar um comentário