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domingo, 19 de abril de 2015

Descartes, seu método, suas minúcias

Típica de um pivô da Revolução Científica do século XVII, a erudição de René Descartes nas ciências permitiu-o elaborar um modelo lógico de conduta na busca pelo que ele chama de "verdades incontestáveis", ou seja, conceitos impassíveis de qualquer dúvida. Em "O Discurso do Método", o filósofo discorre sobre a sua opção de questionar tudo aquilo que lhe foi imposto como verdadeiro ao longo de sua existência, defendendo que a dúvida é essencial para o desenvolvimento da razão - esta colocada pelo autor como intrínseca em igual nível a todos os seres humanos - elemento central e essencial de sua filosofia.

Detentora de um teor contrário ao pensamento aristotélico e escolástico vigente, a obra de 1637 representou um marco na transição do tradicional estudo lógico da dúvida para uma análise das questões com base na observação do mundo além das teorias dos livros. Considerado o grande fundador da Filosofia Moderna, Descartes propôs a o alcance da razão e o questionamento como o método mais efetivo na compreensão do homem e do mundo que o cerca em detrimento do aprendizado por ensinamentos antigos e verdades dogmáticas, uma vez que - por não serem contestados - acreditava que estes podiam se tornar obsoletos ao longo do tempo.

É importante salientar que os questionamentos racionais do pensador atingiam todos os níveis e esferas do conhecimento - de cunho científico ou não - que lhe aprouvessem, privilegiando a razão a lugares comuns e pré-conceitos. Dentre suas reflexões em "O Discurso do Método", nem mesmo a filosofia - classificada pelo próprio autor como uma das poucas ocupações notáveis na busca da verdade - foi poupada de seu julgamento inquisidor: pode-se notar uma clara hesitação quanto as incertezas dessa ciência milenar e dúbia. "Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia". A célebre frase da autoria de Shakespeare em Hamlet, publicado décadas antes, alude à ideia.

O que torna o pensamento Cartesiano um legado e René Descartes um clássico é a aplicação de suas idéias na compreensão do mundo atual. A quebra do senso comum pode ser feita nos mais distintos cosmos das sociedades, se aplicados o método da dúvida do filósofo francês. Uma possibilidade e um exemplo recente foram as jornadas de junho de 2013, nas quais milhares de brasileiros saíram as ruas em uma manifestação de norte a sul do país, em um contexto que se revelou de total desunião ideológica e motivacional. Em análise dos eventos, o sociólogo Demétrio Magnoli definiu o ocorrido como a maior mobilização de brasileiros da história desprovida de um "porquê": os cartazes, passeatas, discursos prontos e os posteriores atos de vandalismo se revelaram fantasmas de reivindicações individualistas que os 20 centavos do início não mais justificavam. O sentido se perdeu, e dessa forma, assim se foram várias das possíveis conquistas expressivas.

Conquanto haja controvérsias acerca de seu método quando Descartes assume a existência de Deus como o ser perfeito e criador de todas as coisas imperfeitas, visto que não pode prová-la senão que por seus próprios meandros, não há nada nem ninguém a contradizê-lo, desde que ele acredite ter razões suficientes para não ter dúvidas. Além disso, o raciocínio do filósofo levou à quebra de paradigmas significativos de sua época, e pode-se reconhecer seu êxito consolidado na famosa máxima: "Penso, logo existo", incontestável de fato. Dado o devido respeito, pode-se dizer que René Descartes alcançou seu maior objetivo com maestria, indubitavelmente.


Nicole Vasconcelos Costa Oliveira
Direito diurno, 1º ano

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