Este
texto tem como objetivo traçar um pequeno corte temporal da influência
religiosa na ciência e sociedade em duas fases e seu divisor - aqui focado no
trabalho do filósofo francês René Descartes - e sua relação com o novo
equilíbrio de forças da nossa sociedade.
Fé
e razão foram e são temas abordados por diversos pensadores. Na Idade Média - principalmente
devido à importância do poder clerical - a relação entre esses conceitos foi extremamente
debatida até que São Tomás de Aquino alcançou uma conciliação entre fé-razão
que seria adaptada à ordem religiosa; para ele, não haveria conflito entre elas,
já que são concepções divinas complementares, com a primeira guiando à segunda (ou
seja, o caráter religioso e espiritual ainda possuía supremacia em relação ao
caráter propriamente humano, mundano e temporal). Esta supremacia não
significava uma negação ao conhecimento humano, proveniente de sua razão,
apenas o limitava, pois não era perfeito.
A
ordem estabelecida parecia estável, porém a filosofia cartesiana representaria
uma ruptura no pensamento vigente. Sua filosofia contrapôs-se à da cultura
medieval (das reinterpretações de Aristóteles e dos preceitos de Tomás de
Aquino - a Escolástica) que ditava o pensamento da época. A união entre
teologia e filosofia (fé-razão) foi questionada e esta última ganhou certa, não
total, autonomia.
Descartes simboliza - junto com outros filósofos - a ascensão racional; para
ele, ao contrário de Bacon que também contribuiu para a formulação do método
científico, concluído pelo francês, os sentidos não constituem caminho para o conhecimento,
devendo ser questionados; a razão, o pensamento para René Descartes é o verdadeiro
caminho para a sabedoria. A dúvida torna-se premissa para o "saber”. A
constante racionalização do problema, a experimentação e a observação finalizam
a base de seu pensamento. A burguesia, que ganhava cada vez mais força, começa
a se identificar com esse enfoque filosófico; ainda mais ao relembrarmos que Descartes também acreditava que a natureza poderia ser compreendida e transformada
conforme a vontade humana e em seu favor; ou seja, percebem-se nele bases para
o Iluminismo e Positivismo, linhas seguidas e cultuadas posteriormente
pelos capitalistas.
As idéias cartesianas foram
adaptadas e a influência divina antes questionada começou a ser refutada,
principalmente com o advento de Freud e Nietzsche, este que prega a "morte
de Deus", aquele propondo o abandono da religiosidade na ciência e na
própria sociedade. Os avanços científicos proporcionados pela chegada de
Descartes e principalmente pelas novas ideias que surgiram baseadas nos seus
conceitos, mas não necessariamente fielmente adeptas a eles, conduziram a
sociedade ocidental ao domínio burguês, do cientificismo e do racionalismo.
Porém, posto que uma sociedade precisa - para manter sua integridade – de uma
ordem, um equilíbrio, a excessiva radicalização de um extremo gera a
necessidade de uma força para contrapor esse peso demasiado – como numa
balança. Assim como na Idade Média a extrema religiosidade dominante teve como
contraponto ideais racionais, atualmente esses encontram novas ondas de essência
espiritual – desconsidera-se aqui grupos de islamismo radical ou de outras religiões orientais menos expressivas, já que não foram influenciados, pelos menos
diretamente pelas ideias e conceitos expostos aqui, as regiões que os
comportam.
Contraditoriamente, os avanços
tecnológicos sugerem novos mundos onde a razão não parece se encaixar: as
teorias quânticas, de mundos subatômicos em que Leis de Improbabilidade são concebidas,
onde a certeza dá lugar à incerteza e ao “talvez”. Logo, essas e outras
descobertas levam a separação entre “eu” e o “mundo” colocada por Descartes e o
conceito de que a razão é o único meio de se alcançar sabedoria à serem
indagados. Questionamos quem nos ensinou a questionar. Buscamos na fé novas
respostas.
Surge então um dilema: seria o
surgimento de Descartes o indício de uma nova era dominada pela razão –de
alcances infinitos ou destinada a estagnação- ou de cíclicas eras em que fé e
razão se alternam?
Roan M. Chimello Dias
1º ano - Direito Diurno
Introdução à Sociologia - Aula 2
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