‘’ O Discurso do Método’’ de
René Descartes aborda uma ideologia referente à dúvida como motor da razão, ou
seja, a partir de indagações e questionamentos o ser humano atinge o
entendimento dos fatos via o método cartesiano sendo, portanto, mecanicista. Para
os filósofos antigos a razão tinha como objetivo contemplar o mundo, diferentemente
dos modernos, como Descartes, cuja função da razão implica no processo
civilizatório por meio das práticas cotidianas.
Devido ao fundamento cartesiano, Descartes visava
distinguir a verdade do erro em todos os campos do saber. ‘’Toda ciência é
conhecimento certo e evidente’’, escreveu ele. ‘’Rejeitamos todo conhecimento
que é meramente provável e consideramos que só se deve acreditar naquelas
coisas as quais não se pode haver dúvidas’’ (Citado em Garber - 1978).
Segundo o autor: ‘’enfim,
que estejamos despertos, quer dormindo, jamais devemos nos deixar convencer
exceto pela evidência de nossa razão, de maneira alguma de nossa imaginação ou
de nossos sentidos. Porque, apesar de enxergarmos o sol bastante claramente,
não devemos julgar por isso que ele seja do tamanho que o vemos (...)’’. Desta
forma é possível concluir que o senso comum é regido pelo raciocínio, porém
resulta em conhecimentos superficiais. Para maior proximidade da verdade é
necessário o uso não apenas da razão, mas também de pesquisas (método).
Na obra ‘’O Ponto de Mutação’’
de Fritjof Capra, o autor afirma que Descartes estava equivocado quanto à
verdade plena a respeito de ciência, uma vez que a ‘’física do século XX
mostrou-nos de maneira convincente que não existe verdade absoluta em ciência,
que todos os conceitos e teorias são limitados e aproximados’’ (p.53). A crença
mecanicista sobre a verdade é utilizada ainda nos dias de hoje na cultura ocidental,
haja visto sua influência nas descobertas na ciência moderna e os impactos
sociais resultantes, como por exemplo, o método ter sido um dos agentes responsáveis
na instauração do atual desequilíbrio cultural.
Descartes era um matemático
e acreditava que a compreensão e o estudo científico deveriam ser por meio de relações
matemáticas exatas, diz ele: ‘’Não admito como verdadeiro o que não possa ser
deduzido, como a clareza de uma demonstração matemática, de noções comuns cuja
verdade não podemos duvidar. Como todos os fenômenos da natureza podem ser
explicados desse modo, penso que não há necessidade de admitir outros princípios
da física, nem que sejam desejáveis’’.
É interessante notar que,
apesar de Descartes ser categorizado como cartesiano, a sua crença em Deus fere
um de seus princípios mais importantes; a comprovação de sua existência. ‘’Para
Descartes, a existência de Deus era essencial à sua filosofia científica, mas,
em séculos subsequentes, os cientistas omitiram qualquer referência explícita a
Deus e desenvolveram suas teorias de acordo com a divisão cartesiana, as ciências
humanas concentrando-se nas res cogitan
e as naturais, na res extensa.’’(O Ponto
de Mutação p.57).
Juliete
Araujo Zambianco
1º ano - Direito Noturno
Introdução à Sociologia - Aula 02
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