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domingo, 18 de julho de 2021

Capítulos e mais capítulos...

    Quem abre inocentemente o Brasil no capítulo de Bolsonaro – 2018, século XXI – pode achar sua eleição um fenômeno inédito ou inexplicável. De fato, poucas vezes nos capítulos anteriores os brasileiros tomaram uma decisão tão ruim quanto essa. Contudo, a crença de que só um ser seria capaz de acabar com a balbúrdia do país e colocá-lo em ordem segue certa tradição. Recomendo que folheie páginas do passado, capítulos do século XIX, mais precisamente o referente à implantação da primeira república, e conseguirá enxergar certas relações. De preferência, abra conjuntamente livros de Auguste Comte e fique impressionado com a presença do positivismo nas entrelinhas de nossa história até os dias de hoje.

    Simplificadamente, Comte é responsável pela criação da física social, fiel defensor do cientificismo, da criação de uma ciência com leis sociais a fim de colocar a sociedade em ordem e levá-la ao progresso científico e social. Contudo, se engana quem restringe suas ideias ao início de uma sociologia. E se engana muito mais quem acha que sua influência na sociedade brasileira se restringe ao lema “Ordem e Progresso” estampado em nossa bandeira nacional. Não é de se estranhar que o único país fora da França que possui Igrejas Positivistas esteja permeado de ideias do autor.

    O positivismo seduziu a elite intelectual brasileira e seus militares, com a defesa da ciência e da ordem, todos achavam que haviam encontrado a solução dos problemas do país (coitados). Interpretando a teoria, os militares enxergam seus traços autoritários, no sentido de ordem como um valor imperativo, como um meio de controlar as forças da sociedade, de relações sociais e econômicas; no sentido do rigor científico para deixar as decisões apenas para indivíduos “capacitados”, excluindo a participação popular.

    Digerindo toda sua teoria, e retornando à leitura do início da nossa república, entendemos o porquê, assim como Comte, os militares decidiram implantá-la, e apesar disso, assim como ele, eram contrários a um regime integralmente democrático. A crença de o progresso ser alcançado apenas com um governo forte e centralizado, iniciou-se com o do Marechal Deodoro da Fonseca, em 1889, mas parece familiar nos capítulos de hoje, não?

    01/03/2018: então presidente do Brasil, Michel Temer, escreve um artigo na Folha de São Paulo. Título? “Ordem é Progresso”; e continua com “Estamos colocando o Brasil em ordem.” (Será mesmo?) Mesmo ano, eleição de Bolsonaro: crença de que só ele para colocar o Brasil em ordem; defendem intervenção militar; temem o comunismo... vestem a bandeira do Brasil! Coincidência?

    São as mesmas cenas dos capítulos anteriores, apenas repaginadas.


Maria Júlia de Castro Rodrigues - 1º ano diurno

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