A esterilidade do positivismo no mundo contemporâneo
A corrente
positivista de pensamento, cujo expoente mais preponderante foi Augusto Comte,
é essencial para compreender as bases do início da Sociologia. Entretanto, no
mundo contemporâneo, ela prova ser insustentável diante das novas realidades
que se apresentam, as quais agem no sentido de contornar prejuízos históricos e
valorizar a individualidade em diversos âmbitos.
Em uma primeira
perspectiva, o Positivismo se notabilizou pelo caráter mecanicista, próximo às
Ciências da Natureza nos aspectos metodológicos e, por vezes, austero na análise
social. Essas características podem ser visualizadas, por exemplo, na
hipervalorização do trabalho como o meio para atingir a felicidade, não a
felicidade pessoal, mas a chamada felicidade coletiva, que seria muito próxima
ao sentimento patriota e à percepção de avanços da nação (avanços sempre de
caráter objetivo, como o aumento da riqueza produzida, sem preocupações acerca
de sua distribuição na sociedade). Outro aspecto ilustrativo é a exaltação de
deveres em detrimento dos direitos, limitando a discussão destes e “podando”
ambições concernentes à mobilidade social ou às melhoras da qualidade de vida. Dentro
dessa lógica, jaz a perversidade de manter os trabalhadores manuais nessas
atividades, impedindo o pensamento crítico desses indivíduos e favorecendo a
estabilidade das classes sociais e do poder.
Nessa ótica, é
possível fazer uma análise crítica sobre o Positivismo, o relacionando com pautas
contemporâneas e percebendo o anacronismo resultante caso sua lógica
continuasse predominando atualmente. Assim, é sabido que o Brasil se constituiu
como uma nação de inúmeras influências culturais diferentes e que seus
habitantes refletem até hoje, por suas raízes e manifestações, essa evidente
pluralidade. O quadro “Operários”, de Tarsila do Amaral, retratou com
perspicácia essa variedade étnica. Em um viés positivista sobre a obra, tal
diversidade seria ignorada e o componente valorizado seria a produção
industrial, bem como o trabalho mecânico que todos ali supostamente exercem.
Busca-se a supressão das diferenças em prol do avanço industrial. Todavia, se
analisarmos a obra por meio de uma perspectiva condizente com as discussões
atuais e coma própria realidade de grande parte do mercado de trabalho, as
diferenças seriam, pelo contrário, valorizadas, inclusive no ambiente
produtivo, explorando as potencialidades individuais e o background cultural de
cada um. Ademais, ao contrário do que pode parecer de início, não se trata de
uma abdicação da produtividade, mas de seu aumento por meio da tentativa de
construção de um ambiente, de fato, harmônico, sem artificialmente tentar
suprimir diferenças, mas aproveitando os seus potenciais.
Em conclusão, o
Positivismo é estéril na contemporaneidade, essencialmente por ser desafeto ao
pensamento crítico de minorias sociais, à manifestação da pluralidade e ao
questionamento mais profundo de estruturas sociais perversas e preconceituosas,
historicamente reforçadas, mas que, com maiores debates no contexto atual,
começam a ser desveladas e transformadas. Por ir de encontro a tais tendências de
inclusão do século XXI e de valorização dos avanços no campo social, e não
somente econômico, o Positivismo como lógica hegemônica tem seus dias contados.
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