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domingo, 18 de julho de 2021

O genocídio e a república positiva

A filosofia positivista é baseada na ordem e no progresso, prioriza sempre a ciência e a razão e reverbera a hierarquia, supostamente natural, em prol de uma harmonia social. A república brasileira tem seus fundamentos dentro do positivismo, um grande exemplo disso é a frase que estampa a bandeira verde e amarela: “ordem e progresso”.

Em um contexto histórico onde a burguesia tentava dominar a natureza a favor do comércio, Auguste Comte, sociólogo precursor da ciência social, desenvolveu o Positivismo. Tal filosofia representava o rompimento do conhecimento teológico e científico e o ponto de partida da sociologia. Nesse viés, a ciência tornou-se uma verdade absoluta e incontestável. Ademais, o positivismo não procura a essência dos acontecimentos, apenas relaciona os fenômenos criando uma solução imediata e sem profundidade. 

Sob um olhar positivista, o indivíduo deveria sucumbir frente ao coletivo, isto é, o indivíduo deve se submeter ao bem coletivo, isso explicaria porque determinados grupos se sacrificam em prol da sociedade sem desafiar a harmonia, outro pilar de extrema importância para o positivismo. O progresso positivo é consequência de uma ordem: toda a sociedade mantém a estabilidade - por isso, o “revolucionário” era insustentável na sociedade positivista. 

Influenciado pelo positivismo, o darwinismo social prega a hierarquização das sociedades. Essa hierarquização utiliza como parâmetro aspectos físicos e intelectuais. Sob este prisma, as sociedades mais “desenvolvidas” teriam a função de governar as sociedades “subdesenvolvidas”. Apesar do grande absurdo apresentado pela teoria, eventos importantes basearam-se nelas, tais como o Neocolonialismo, o Nazismo e, no Brasil, o genocídio das populações indígenas. Esse último, perpetua-se ainda, com força, através dos grandes embates das resistências indígenas e da expansão dos grandes latifúndios.

De maneira geral, através da glorificação da ciência sistemática como única maneira de se atingir um determinado progresso - que cabe dizer, refere-se a um progresso europeu de industrialização - o positivismo hierarquiza as diferentes culturas existentes ao redor do mundo. O genocídio dos povos originários brasileiros, impressionantemente, muitas vezes é justificado pelo seus supostos atrasos culturais e sociais. Por não apresentarem um modelo de vida industrializado “à la Europa”, sua cultura e suas relações são inferiorizadas. 

 O positivismo defende o progresso capitalista. A industrialização é o único caminho pelo qual seria possível alcançá-lo, através da repressão das classes menos favorecidas que, por obrigação natural, devem respeitar uma hierarquia forjada pelos mais ricos. Para garantir a estabilidade do estado positivo, um grande aliado seriam os resultados imediatos. Analisando apenas os fatos e desprezando as outras relações existentes, produz-se uma verdade superficial e que, obviamente, impossibilita qualquer revolução pois não modifica ou crítica nenhuma estrutura verdadeiramente responsável pelo fenômeno ocorrido.

Por conclusão, a ideia equivocada de que sociedades podem ser comparadas através dos seus graus de industrialização ou intelectual é uma herança europeia e, principalmente, capitalista. Além disso, o grande sacrifício social de determinados indivíduos para a sustentação da harmonia social e do bem coletivo reflete as desigualdades sociais em que o país encontra-se afundado até os dias atuais. Portanto, as mazelas de uma sociedade jamais devem ser justificadas pela busca da ordem e do progresso. Progresso às custas das feridas de uma população é, na verdade, regresso. Luisa Sasaki - Turma XVIII - Direito - Diurno


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