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domingo, 18 de julho de 2021

A fase egoísta do positivismo


    Caro leitor, hoje proponho que faça uma viagem histórica comigo, para que possamos entender a origem de certas ideias que hoje permeiam intrinsecamente de maneira negativa (apesar do nome da ideologia) a sociedade brasileira e o mundo de forma geral.
    A nossa primeira parada será na França em 1844. Neste cenário pós-revolucionário, Augusto Comte publicava seu livro “Discurso sobre o Espírito Positivo”. Nele o autor defende as primeiras ideias para uma física social, a qual deveria realizar seus estudos de maneira semelhante às ciências naturais, a fim de obter relatos puros a partir de uma matriz neutra. Convenientemente, essa ideologia também prega os ideais de ordem a fim de se obter o progresso, abominando qualquer atitude que possa romper com o equilíbrio (supostamente) existente dentro da sociedade e de suas relações.

    Fazendo uma pausa na análise histórica e partindo para uma observação sociológica, essa ideologia positivista foi um sucesso entre a burguesia que nesse momento estava em ascensão. Isto porque, essa classe buscava ideias que pudessem justificar toda a exploração - e futura opressão - que estavam exercendo sobre o proletariado.

    Um pouco mais a frente neste século XIX, o positivismo e sua ideologia de progresso se espalha pelo mundo, alcançando vários continentes e nações poderosas, que promovem ações baseando-se nessa corrente. Nos EUA, têm-se o início da Marcha para Oeste, sendo justificada pelo Direito Manifesto, no qual supostamente os estadunidenses deveriam levar o progresso para os povos nativos que habitavam os territórios a oeste. Já na Europa, em 1884, foi realizada a Conferência de Berlim, na qual as nações europeias fizeram a partilha dos continentes africanos e asiáticos, a fim de explorar os recursos naturais. Mas qual justificativa foi dada? Bom, acho que você já consegue adivinhar.

    Aposto, leitor, que você deve estar se perguntando, e o Brasil? Bom, é claro que nosso país não ficaria de fora da festa. Avancemos agora para o ano de 1889. Liderados pelo Marechal Deodoro da Fonseca (um positivista nato) os militares, através de um golpe, proclamam a república. O lema escrito na nova bandeira? Claramente, “ordem e progresso”. Com isso, é evidente que o governo dos militares desse período possuía um único objetivo: o cultivo e a imposição da ordem social para se chegar ao progresso.

    Finalmente, ao chegarmos no século XXI somos recebidos com a seguinte frase: "O povo quer hierarquia, respeito, ordem e progresso”. Essa frase poderia ter sido retirada de uma das obras do positivista Augusto Comte, mas ela foi dita pelo atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (ex-militar) em um discurso no ano de 2019, ao defender as forças armadas. Outro exemplo dito pelo mesmo, enquanto ainda era parlamentar em um encontro na Paraíba (fevereiro de 2017) foi: “As minorias têm que se curvar para as maiorias”. Demonstrando assim, que o positivismo em sua face mais egoísta - que marginaliza e oprime aqueles que se opõem a ele - ainda está enraizado entre as classes dominantes e principalmente entre os militares.

    Agora partimos para o ponto crucial dessa narrativa, senhoras e senhores leitores. Por que então o positivismo ainda é uma vertente com vários apoiadores? A resposta prática é que vivemos em uma sociedade capitalista, na qual os membros das classes dominantes fazem de tudo para manterem a ordem. Sendo capazes de utilizar uma filosofia cruel e excludente em relação às minorias, em prol da manutenção das relações desiguais e privilégios já existentes.

    E agora? Caro leitor, minha resposta a essa pergunta seria o combate veemente ao positivismo e aqueles que os defendem. Entretanto, esta é uma tarefa árdua, que pode demorar algum tempo até ser concretizada. Como não desenvolvi a habilidade de viajar ao futuro, torna-se função de um outro narrador fornecer-lhe esta resposta.

    Obrigada por ter me acompanhado até aqui, espero que essa jornada tenha esclarecido suas ideias. Caso contrário, ponho a culpa em Comte e suas ideias positivistas.







Ana Beatriz da Silva - 1º Ano de Direito - Diurno

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