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domingo, 18 de julho de 2021

A astrologia social;

O papel do positivismo na conservação da elite, contra o rompimento da hierarquia de poderes.

 

Se questionássemos alguém que segue a doutrina positivista, criada por Auguste Comte (1798 – 1857), sobre o porquê de negros e moradores da periferia nunca ocuparem cargos de grande relevância na política, ou o que o leva a crer que pessoas homoafetivas prejudicariam a sociedade e os bons costumes, ele provavelmente responderia com uma outra indagação, “Por que Júpiter nunca ocupará o lugar de Mercúrio? E o que você pensaria se a Terra subitamente mudasse o sentido de sua translação?”. Depois disso, ele mesmo responderia sua indagação com alguma frase pré-formada como: “Porque isso seria uma subversão da ordem, e o gênero é um fato biológico... e você bem sabe que contra fatos não há argumentos.”.

Uma resposta curiosa essa, um argumento das elites, que se sentem confortáveis no topo da hierarquia e que se apoiam no positivismo de Comte para defender a ordem como caminho para o progresso, nada mais que uma maneira de manter-se nas posições de destaque da sociedade. Dessa forma, sempre que uma “minoria” ascende socialmente, o positivismo volta a estar em voga, com fim de retornar tudo a seu devido, e muito conveniente aos positivistas, lugar. É assim que os poderosos mantêm seus privilégios, e é assim que dão manutenção à dinâmica social do poder.

Muitas vezes na história do Brasil, pudemos ver a corrente positivista se fortalecendo entre as camadas mais privilegiadas da sociedade. A mais clara e que trouxe maior mudança no cenário político-social-econômico ocorreu em 1964, ano do golpe de estado, apoiado pela elite econômica, grupos políticos, o exército e a classe média urbana brasileira. À época, o presidente de João Goulart, tratava de pautas mais sociais e acabara de determinar uma reforma agraria, além da nacionalização de empresas estrangeiras, o que ameaçava a ordem das coisas e o privilégio da elite. Esse foi o estopim, aceso pela população menos privilegiada e pelo governo Jango, que levou a explosão do golpe que resultou em 21 anos de ditadura.

Toda as barbáries que se deram nesse período, toda a opressão, a tortura, a perda da liberdade foram justificadas como medidas necessária para conter o avanço de uma insurreição comunista, iminente para os grupos que estavam no topo da hierarquia, era a perda da família, da religião, o fim das sagradas instituições que mantinham a ordem. E a justificativa foi muito bem aceita pela população média, pessoas que tinham medo de uma desordem social, medo de perderem o que lutaram para conquistar, medo de fugir da forma positivista de ver o mundo. Tudo o que ocorreu nesse período tinha apenas um objetivo: manter a ordem. E com isso, preservar a dinâmica do poder, proteger as hierarquias. Era o positivismo mais uma vez guardando a elite.

As ideias de Comte contribuíram imensamente para a evolução do pensamento, tiveram parte importante nas ciências sociais, não podemos negar isso, mas devemos estudá-las cuidadosamente. Isso porque a teoria positivista é uma arma para as elites justificarem quaisquer ações tomadas em favor do status quo, para conservar o poder onde ele já se encontra. Proteger a família, manter a ordem, não se perder da religião; são argumentos poderosos para convencer a população de qualquer coisa, até mesmo da necessidade de uma ocupação militar, ou da censura e da tortura. Não devemos confundir o funcionamento dos astros com a dinâmica da sociedade, se para a astrologia uma pequena mudança na orbita de um planeta pode significar o fim da raça humana, para a sociologia a mudança quer dizer evolução. Para o bem ou para o mal, a mudança é o que nos eleva ao próximo patamar, é como avança a sociedade.

 

Rodrigo Beloti de Morais

1º ano - Noturno

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