A astrologia social;
O papel do positivismo na conservação
da elite, contra o rompimento da hierarquia de poderes.
Se
questionássemos alguém que segue a doutrina positivista, criada por Auguste
Comte (1798 – 1857), sobre o porquê de negros e moradores da periferia nunca
ocuparem cargos de grande relevância na política, ou o que o leva a crer que pessoas
homoafetivas prejudicariam a sociedade e os bons costumes, ele provavelmente
responderia com uma outra indagação, “Por que Júpiter nunca ocupará o lugar de
Mercúrio? E o que você pensaria se a Terra subitamente mudasse o sentido de sua
translação?”. Depois disso, ele mesmo responderia sua indagação com alguma
frase pré-formada como: “Porque isso seria uma subversão da ordem, e o gênero é
um fato biológico... e você bem sabe que contra fatos não há argumentos.”.
Uma
resposta curiosa essa, um argumento das elites, que se sentem confortáveis no
topo da hierarquia e que se apoiam no positivismo de Comte para defender a
ordem como caminho para o progresso, nada mais que uma maneira de manter-se nas
posições de destaque da sociedade. Dessa forma, sempre que uma “minoria”
ascende socialmente, o positivismo volta a estar em voga, com fim de retornar
tudo a seu devido, e muito conveniente aos positivistas, lugar. É assim que os
poderosos mantêm seus privilégios, e é assim que dão manutenção à dinâmica
social do poder.
Muitas
vezes na história do Brasil, pudemos ver a corrente positivista se fortalecendo
entre as camadas mais privilegiadas da sociedade. A mais clara e que trouxe
maior mudança no cenário político-social-econômico ocorreu em 1964, ano do
golpe de estado, apoiado pela elite econômica, grupos políticos, o exército e a
classe média urbana brasileira. À época, o presidente de João Goulart, tratava
de pautas mais sociais e acabara de determinar uma reforma agraria, além da
nacionalização de empresas estrangeiras, o que ameaçava a ordem das coisas e o
privilégio da elite. Esse foi o estopim, aceso pela população menos
privilegiada e pelo governo Jango, que levou a explosão do golpe que resultou
em 21 anos de ditadura.
Toda
as barbáries que se deram nesse período, toda a opressão, a tortura, a perda da
liberdade foram justificadas como medidas necessária para conter o avanço de
uma insurreição comunista, iminente para os grupos que estavam no topo da
hierarquia, era a perda da família, da religião, o fim das sagradas
instituições que mantinham a ordem. E a justificativa foi muito bem aceita pela
população média, pessoas que tinham medo de uma desordem social, medo de
perderem o que lutaram para conquistar, medo de fugir da forma positivista de
ver o mundo. Tudo o que ocorreu nesse período tinha apenas um objetivo: manter
a ordem. E com isso, preservar a dinâmica do poder, proteger as hierarquias. Era
o positivismo mais uma vez guardando a elite.
As
ideias de Comte contribuíram imensamente para a evolução do pensamento, tiveram
parte importante nas ciências sociais, não podemos negar isso, mas devemos estudá-las
cuidadosamente. Isso porque a teoria positivista é uma arma para as elites
justificarem quaisquer ações tomadas em favor do status quo, para
conservar o poder onde ele já se encontra. Proteger a família, manter a ordem,
não se perder da religião; são argumentos poderosos para convencer a população
de qualquer coisa, até mesmo da necessidade de uma ocupação militar, ou da
censura e da tortura. Não devemos confundir o funcionamento dos astros com a
dinâmica da sociedade, se para a astrologia uma pequena mudança na orbita de um
planeta pode significar o fim da raça humana, para a sociologia a mudança quer
dizer evolução. Para o bem ou para o mal, a mudança é o que nos eleva ao
próximo patamar, é como avança a sociedade.
Rodrigo Beloti de Morais
1º ano - Noturno
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